Religião, máscara e essência

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Por: João Ferreira Leite luz


A grande pergunta repousa sobre o que é ser autenticamente um religioso no “mundo” evangélico.

A religiosidade patética de um grande número de segmentos evangélicos da modernidade tem se resumido em estar confinados em redutos cristãos aprendendo métodos de reivindicar direitos, decretar vitórias, bater o pé e amarar demônios, exigir bênçãos para ficar próspero etc. A ênfase não é mais a reflexão bíblica séria, e sim as emoções, o que sentem no culto, às experiências místicas, os arrepios etc.

Estamos freqüentando a templos suntuosos, apinhado de gente querendo ser bem sucedida. Nesta frenética busca de bens materiais as igrejas crescem numericamente e, ironicamente pregam fraternidade, pois enquanto alguns vivem nababescamente a grande maioria é pobre e por de trás dos bastidores ainda tem gente passando fome. Essa religiosidade não passa de uma máscara, pessoas vazias, periféricas no relacionamento com Deus, mas que se sentem seduzidas por suas benesses. Vive um relacionamento, mas de troca, jejuam para conquistar benefícios, oram, mas porque querem galgar sucesso. A exemplo, como no famoso movimento de igreja em células no modelo dos doze (G.12) aonde existe a chamada “oferta com propósitos” em que o ofertante leva sua contribuição determinando a benção, a cura, ou a salvação de um ente querido, através de sua oferta. (Indulgência moderna?).

Isso beira o absurdo diante da proposta protestante do século XVI, em que Martinho Lutero em suas noventa e cinco teses denuncia os abusos da igreja Romana. Em sua tese de número 54, ele afirma:

“Ofende-se a palavra de Deus quando no mesmo sermão se da igual ou mais tempo as indulgências do que a própria palavra.”

Nem parece que ele tenha escrito no século XVI, pois continua atualíssimo, visto que nos cultos contemporâneos se gasta cerca de 40 minutos ministrando (coagindo?) sobre ofertas. Esse abuso de cobranças de tributos, prometendo prosperidade, saúde e sucesso, não seria uma espécie de indulgência moderna? Será que não estamos precisando de uma nova reforma? Acredito que a máxima da reforma protestante do século XVI, deveria ser a nossa também: “Ecclesia reformata et semper reformanda”.

Essa busca ilimitada de bens temporais não representa o leito principal do cristianismo apostólico, mas são subprodutos da busca do essencial, Deus e seu reino (Mt 6.33). Inverteram-se os valores do reino, mudou-se de foco, olha-se para Deus como meio para realizações de meros projetos humanos. Estamos pregando um evangelho antropocêntrico em que Deus deixa de ser o centro, para dar esse lugar ao ser humano.

Conversando com uma pessoa não evangélica, ela me disse que se fosse para ser crente nessas igrejas contaminadas pelos efeitos da pós-modernidade, ou seja, o evangelho tornou-se mais um bem de consumo a ser comercializado, ela preferia não ser religiosa. No que lhe disse: qual é o conceito que se tem da religião. O que é ser religioso. Fui sincero em afirmar que via nela uma pessoa cristã, e mais, que sua vida era abundante em valores e conteúdos do reino de Deus, que não vejo em muitos cristãos (pseudo?) com muitos anos de igreja.

A pergunta não quer se calar. O que é ser religioso? Acredito que nesse momento crítico que a igreja atravessa essa pergunta não deve ser silenciada, e mais, ela deve ser respondida não simplesmente através de palavras, mas principalmente através de posturas, de atitudes, de obras, enfim através da vida.

Muitos diriam que ser religioso é ir à igreja periodicamente; obedecer a regras que o pastor dite; dar dízimos; não prejudicar ninguém etc. De fato isso demonstra alguém religiosamente bem trabalhado, mas não responde a pergunta.

A palavra latina religare (religião) quer dizer religar, atar etc. A aplicação desta palavra quer dizer que religião é religar ou reconstruir o relacionamento que outrora foi rompido com Deus. Essa reconstrução só é possível por meio do sacrifício que Jesus Cristo fez na cruz. Então religião em sua essência é uma vida relacional com Deus através de Cristo, e ainda, é um relacionamento onde Deus como Pai procura filhos e filhas com os quais ele possa construir uma grande família. E nós como filhos possam à medida que caminhamos absorver o caráter de Cristo.

Então a pergunta o que é ser religioso tem a sua resposta quando afirmamos que ser religioso é uma busca essencialmente do próprio Deus, e não a mera busca descomedida por seus presentes.

Que Deus nos ajude!
Sola Scriptura.
João Ferreira Leite luz

Blog do autor: [ http://repensandoconceitos.blogspot.com ]
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3 comentários

Com toda certeza precisamos de uma nova reforma. Os problemas que afetavam a Igreja medieval, quais sejam: misticismo, indulgências, adoração de relíquias, ritualismo, analfabetismo bíblico e papismo resurgem agora com toda a força; com uma roupagem nova, porém, com o mesmo espírito.

Misticismo - Assim como o povo medieval era propenso a acreditar em qualquer história fantasiosa contada pelos prelados, também os evangélicos atuais, rejeitando a racionalidade que Deus lhes deu, se deixam levar pela louca imaginação de alguns pregadores que dizem a crentes pecadores e carentes de arrependimento que "um anjo está passeando pela igreja com bençãos materiais numa bandeja." A operação de poderes celestiais no culto é legítima desde o momento em que se baseia em fatos reais e não em envencionices.

Indulgências: Assim como Tetzel atravessava a Alemanha prometendo tirar do purgatório e levar para o céu os parentes daqueles que contribuíssem para a Igreja, também os pastores mercenários da atualidade prometem bençãos inimagináveis àqueles que tirarem o pão de suas crianças para dar ofertas, com a seguinte diferença: esses pastores não só oferecem o céu, mas um paraíso terrestre imediato que só está reservado para o final da história universal.

Adoração de relíquias: Assim como eram oferecidas nas igrejas medievais um pedaço da arca de Noé, uma pena da asa do anjo Gabriel, no contexto evangélico brasileiro vendem-se: um azeite barato de mercado como o óleo de Israel, a água do rio Guandú como a água do rio Jordão, rosas abençoadoras, envelopes da prosperidade, etc.

Ritualismo: Assim como as liturgias medievais se transformaram em rituais áridos, formais, com desdobramentos meramente mecânicos, assim também o que mais se vê nas igrejas evangélicas são os chamados "cultos hipócritas", prestados por crentes irreverentes, que cantam sem emoção, vestidos com roupas decorosas, mas imundos interiormente. Cultos que tem um roteiro "engessado", isto é, predeterminado e inflexivel, nos quais não acontecem novidades espirituais.


Analfabetismo bíblico: Assim como a sociedade medieval vivia uma alienação espiritual em virtude da inacessibilidade da Palavra de Deus na língua materna, alienação esta intensificada pela a realização das missas em latim, assim os evangélicos atuais sofrem com o chamado analfabetismo bíblico, com a diferença de que a alienação atualmente é fruto de uma escolha deliberada de próprio crente. Nunca se venderam tantas bíblias como agora. Entretanto, os indicadores da estatística sobre o conhecimento bíblico dos crentes permanece como uma curva tendende para baixo. A Biblia tornou-se um mero amuleto.

Papismo: Assim como havia a pretensão papal ao reinado universal com a necessária submissão de reis e imperadores à sua majestade, também testemunhamos em nossos dias a existência de líderes evangélicos que absolutizaram o poder eclesiástico. Não se trata apenas de um, mas de vários "papas", cada um tentando prevalecer sobre o outro, com o uso, inclusive, de nefastas alianças políticas. Suas verdades são absolutas e incontestáveis. Qualquer oposição por menor que seja é atribuída a Satanás. A perpetuação no poder para eles é uma questão de honra. Seus liderados evitam qualquer tipo de insubmissão sob pena de serem "excomungados" da panelinha eclesiástica.

Cristiano Santana
http://cristisantana.blogspot.com

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Fico imensamente grato por ter publicado meu texto. Espero de alguma maneira estar contribuindo.

Abraço forte,

João

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João,

Concordo absolutamente com você no que se refere a religião.
Jamais encontraremos Deus nessas igrejas e templos onde prepondera a ganância a qualquer custo
Para mim religião é sentir Deus no coração. E estando com ele, nossa atitudes são corretas, nossa mente é sã e nossa crença é uma só:
"Deus é pai e nos protege!"
bjs

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