Amanhã pode ser tarde para fazer a sua parte!

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"Se não fizermos a nossa parte agora,
Se quiser fazer amanhã, talvez não
dê mais tempo." Andressa Barragana.




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O sucesso de Edir Macedo e a pergunta que fica no ar!

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Fonte original da matéria abaixo: Revista Ultimato
edição Nº313 - Julho-Agosto 2008.



O sucesso de Edir Macedo é enorme. Trata-se de um fenômeno religioso sem igual. Em 30 anos, o modesto fluminense nascido em 1945 e convertido ao evangelho no Rio de Janeiro em 1964 fundou uma igreja neopentecostal que hoje tem quarenta luxuosas catedrais, mais de 4.700 templos e quase 10 mil pastores só no Brasil. Em média, a cada quinze dias, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) constrói um templo e transfere um dos seus obreiros para fora do país. É a maior distribuidora de Bíblias e uma das maiores locatárias do país (paga o aluguel de 8.806 imóveis). Já se estabeleceu em quase todos os países do globo e em alguns faz tanto sucesso como no Brasil. Na Argentina, a igreja tem cinco catedrais, mais de 150 templos, trezentos núcleos, duzentos pastores e 66 horas de programas de televisão por semana, além do jornal “El Universal”, com tiragem de 170 mil exemplares. A catedral de Guayaquil, no Equador, tem 7.500 metros de área construída e custou 8 milhões de dólares. A de Soweto, na África do Sul, ficou por 20 milhões. Em Portugal estão sendo construídas duas catedrais, uma em Lisboa e outra no Porto. Macedo pretende construir a mais arrojada catedral da Universal em um quarteirão de 28 mil metros quadrados no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. Orçado em 200 milhões de reais, o templo terá dezoito andares e acomodará 13 mil fiéis assentados.

Além das atividades religiosas, a Universal tem construtoras, seguradoras, empresas de táxi aéreo, agências de turismo, mídia e consultorias, que geram 22 mil empregos diretos e mais de 60 mil indiretos.

O sucesso de Edir Macedo diz respeito também aos seus negócios particulares. Ele e a esposa são donos da Rádio Copacabana e da Record, a segunda maior rede de televisão do país, com 99 emissoras (próprias e afiliadas) e 6 mil funcionários, cujo valor deve estar na casa de 2 bilhões de dólares.

A grande pergunta que todo mundo faz à boca pequena, especialmente os evangélicos, é como entender o sucesso de Macedo. Seria indício da bênção de Deus em sua vida e obra? Seria o resultado do exercício tenaz da oração? Seria o fruto de um avivamento promovido pelo Espírito Santo? Essas três possibilidades enfrentam séria dificuldade em vista de certos ensinos, certos procedimentos e certos métodos da Universal, que agridem a pureza do evangelho de Jesus, todos relacionados principalmente com a teologia da prosperidade. Há que se considerar também o estranho sincretismo religioso abraçado pela IURD.

Outra possível explicação para o fenômeno poderia ser o estilo empresarial de Macedo, já exposto na reportagem "A igreja de Edir Macedo tornou-se um conglomerado que mescla religião, mídia, política e negócio " (edição de novembro/dezembro de 2007).

Levando-se em conta que Deus é o soberano Senhor sobre todos e sobre tudo, portanto o Senhor da história, pode-se até supor que Macedo seria o seu servo, o seu vassalo, o seu agente, um instrumento de juízo para provocar nas igrejas cristãs alguma resposta, alguma reação, alguma providência. Deus não chama o poderoso rei da Babilônia de “meu servo Nabucodonosor” (Jr 25.9)? Não diz sobre o poderoso rei da Pérsia que “ele é meu pastor e realizará tudo o que me agrada” (Is 44.28)?

A IURD é apenas a mais visível de todas as denominações cristãs que estão abraçando a infeliz teologia da prosperidade. Quase todas as igrejas neopentecostais e não poucas igrejas de linhas pentecostal e tradicional estão sendo perigosamente seduzidas por este movimento, nascido nos Estados Unidos no início do século 20
(veja Raízes históricas da teologia da prosperidade). Para satisfazer o público obcecado muito mais por seu próprio bem-estar material do que pela busca do reino de Deus (o que Jesus condenou no Sermão do Monte), muitas igrejas estão sendo tentadas a deixar de lado o evangelho original e abraçar o “outro evangelho” (Gl 1.16). Na verdade, as igrejas pentecostais e históricas não devem ficar impressionadas nem com o sucesso numérico nem com a grande visibilidade das igrejas neopentecostais. Jesus manda tomar mais cuidado com o alicerce do que com a casa em si. Sem esse alicerce cavado na rocha, que é Cristo, a casa mais cedo ou mais tarde cairá e sua queda fará “um barulho medonho” (Mt 7.27, BV). Uma das tentações a que Jesus foi submetido era, nas palavras de John Stott, “ganhar o mundo satisfazendo sua fome por meio de uma exposição sensacional do poder”. Jesus não transformou pedras em pães, não se jogou da parte mais alta do templo ao chão nem se curvou diante de Satanás para evitar a cruz e ganhar de lambuja “todos os reinos do mundo e o seu esplendor” (Mt 4.8). Stott diz ainda que “o Diabo adora nos persuadir de que os fins justificam os meios” (A Bíblia Toda, O Ano Todo, p. 177).

Nota

Os dados sobre Edir Macedo e a Universal foram retirados de “O Bispo — a história revelada de Edir Macedo” (Larousse, 2007).


As boas novas de Edir Macedo
e da teologia da prosperidade


As boas novas anunciadas pela Igreja Universal do Reino de Deus são formidáveis. Não há quem não se deixe atrair por elas. É por essa razão que a Universal é o maior fenômeno religioso dos últimos tempos.

Todavia, as boas novas de Edir Macedo não são exatamente as boas novas que foram anunciadas altas horas da noite aos pastores que apascentavam os seus rebanhos nas cercanias de Belém, no dia do nascimento de Jesus. Aos aterrorizados homens do campo, o anjo declarou: “Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11).

Encabeçados pelo bispo maior, os bispos e os pastores da Universal estão apresentando ao povo, pelo púlpito, pelas sessões de descarrego, pela televisão, pelas emissoras de rádio e por meio de seus periódicos e livros, o “Jesus errado”, nas palavras do pastor Israel Belo de Azevedo, diretor do Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro.

“Há pessoas se relacionando com o Jesus que se ama enquanto se precisa dele. Quantas pessoas vêm a todos os cultos da igreja, até do meio da semana, e desaparecem depois que recebem de Jesus o que buscavam. [...] Quem busca a Jesus por causa dos milagres não sabe quem é Jesus. Pois ele disse: ‘Eu sou o pão vivo que desce do céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre’ (Jo 6.51)”.1

“Enquanto algumas pessoas espiritualizam o evangelho, como se ele oferecesse somente salvação do pecado, outros politizam o evangelho, como se ele oferecesse somente libertação da opressão” (John Stott).2

O que acontece com a Universal e, não raro, com outras igrejas neopentecostais comprometidas com a teologia da prosperidade, é que elas enfatizam a parte egoísta do evangelho, a libertação da opressão da miséria, da fome, do desemprego, da bancarrota, da doença, da depressão, das crises matrimoniais etc. O próprio Edir Macedo explica: “Somos um pronto-socorro”.3

As boas novas do bispo estimulam o materialismo e o malfadado consumismo, e destroem o estilo de vida simples que o evangelho apregoa. Por culpa dessas “boas novas” e de outras, provavelmente em nenhuma outra ocasião da história Jesus tenha descido tanto do seu pedestal de direito e de origem como agora. Esse desvio amplo e sorrateiro pode ser visto na denúncia de Belo de Azevedo:

“Há um produto circulando por aí: você quer saber viver? Siga os ensinos da moralidade e da sabedoria deixados por Jesus. Você quer aprender como liderar? Aprenda com Jesus, o maior administrador de empresas do mundo. Você quer conhecer a si mesmo? Aprenda com Jesus, o maior psicólogo de todos os tempos. Quem se interessa por Jesus em função apenas dos seus ensinos não sabe quem é Jesus. Suas palavras são palavras de vida eterna (Jo 4.13-14)”.4

O povo não quer saber nada de pecado, arrependimento, conversão, porta estreita, caminho apertado, poucos companheiros, auto-negação, amor e doação de si mesmo ao próximo nem de muitos outros valores básicos do cristianismo. Mas cristianismo sem cruz não existe. Jesus descreveu enfaticamente a obra do Espírito Santo: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). Assim sendo, nada mais oportuno e mais fadado ao sucesso do que a pregação de outras boas novas. O senador Marcelo Crivella, também bispo da Universal, afirma que Edir Macedo “nunca aceitou ensinar o povo a cantar ‘eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré’”.5

Na verdade, a IURD não seria a potência que é se pregasse as boas novas originais em sua totalidade. Nem levantaria o dinheiro que arrecada na forma de dízimos e ofertas, como o próprio Edir Macedo admite: “Qualquer pessoa que chega à igreja e é abençoada, mais ela dá. Se você fosse e recebesse, não daria?”.6 A Universal é a principal responsável pela popularização do dízimo mercenário, aquela contribuição dada somente por causa do retorno. Para Macedo, o fiel que precisa de alguma bênção ou algum milagre tem duas opções: “Ou a pessoa dá ou não recebe”.7


Notas

1. “Revista Enfoque”, maio 2008, p. 32.
2. “A Bíblia Toda, O Ano Todo ”, p. 179.
3. “O Bispo”, p. 136.
4. “Revista Enfoque”, maio 2008, p. 53.
5. “O Bispo”, p. 123.
6. “Idem”, p. 201.
7. “Idem”, p. 202.




Duas atitudes inacreditáveis:
a pregação interesseira e a magnanimidade de Paulo



Desde o início, desde Paulo, desde a metade do primeiro século até hoje, o início do século 21, alguns cristãos pregam a Cristo não “por motivo puro”, “não por reta intenção”, “não por honestidade ou sinceridade”, mas “por ambição egoísta”, “por briga”, “por discórdia”, “por espírito de competição”, “por interesse pessoal”, “por intriga”, “por inveja”, “por partidarismo”, “por polêmica”, “por porfia” ou “por rivalidade”. Fazem assim porque “são ciumentos e briguentos”. Tudo isso está na Epístola de Paulo aos Filipenses (1.15-17).

Mais inacreditável ainda é que o rigoroso apóstolo mostra-se extremamente longânimo diante de tamanho absurdo: “Isso não tem importância. O que importa é que Cristo está sendo anunciado, seja por maus ou por bons motivos. Por isso estou alegre e vou continuar assim” (Fp 1.8, NTLH).

Esta passagem bíblica, que merece todo respeito, parece proibir o que Ultimato está fazendo na matéria de capa desta edição. Já que à porta de cada catedral, templo ou sala alugada da IURD anuncia-se a Cristo por meio da expressão “Jesus Cristo é o Senhor”, retirada da mesma Epístola de Paulo aos Filipenses (2.11), a revista não deveria criticar Edir Macedo nem qualquer outro pregador da teologia da prosperidade.

Não é bem assim. Paulo não ficaria quieto nem manso diante do “evangelho da saúde e da prosperidade” (um dos nomes da teologia da prosperidade). O que estava em jogo no caso mencionado por Paulo é a falta de intenção pura da parte daqueles evangelistas que pregavam a Cristo por interesse pessoal. O que está em jogo no caso dos pregadores da teologia da prosperidade é que eles pregam um evangelho diferente daquele que os primeiros cristãos ouviram e aceitaram. Nesse terreno, Paulo é indobrável: “Se alguém, mesmo que sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que temos anunciado, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.8).

De sobra, além de pregar o evangelho original, os “ganhadores de almas” de qualquer denominação histórica e pentecostal deveriam descobrir a sua verdadeira motivação e experimentar uma mudança radical, caso estejam pregando por espírito de competição, de rivalidade, de intriga, de partidarismo! Deus será grandemente glorificado depois desse acontecimento!



O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz
sobre riqueza e pobreza



Edir Macedo diz:

“A Igreja Católica sempre impregnou na cabeça das pessoas que riqueza é coisa do mal e que pobreza é boa. Eles querem que eu pregue a “teologia da miséria”? [...] O objetivo (de construir catedrais) é abrir a cabeça do pobre que dá oferta. Na sua casa, ele senta no sofá rasgado ou até no chão. Na Igreja ele é honrado. Tem o direito de sentar numa cadeira estofada, com ar-condicionado, usar um banheiro limpo. Recebe um atendimento exemplar. Eu quero mostrar que ele é capaz de conquistar coisas grandes, uma vida melhor. Algo como dizer: ‘Veja a grandeza de Deus. Sua casa é um barraco. Olha o que Deus pode fazer. A Igreja Universal também começou em um barraco, mas olha como está hoje. Você precisa investir nesse Deus’” (“O Bispo”, p. 208, 211).


A Bíblia diz:

A frase do bispo Macedo soa simpática ao pobre e se parece com a fé de que a pobreza se resolve no relacionamento particular com Deus, na prática de uma fé pessoal. A Igreja Universal não foi a primeira a construir catedrais. Toda confissão religiosa parece ter uma visão de que Deus se agrada da riqueza. No Antigo Testamento temos duas construções milionárias. O que está em pauta, portanto, não é a construção de catedrais, porque essa prática é milenar, transcultural e transreligiosa. A questão é a natureza da pobreza. Seria resultado de um insuficiente relacionamento com Deus, algo como falta de fé? Portanto, uma questão espiritual? Significaria que quem é rico (não se contempla aqui a questão da origem da riqueza, mas a simples posse da mesma), independente da relação que tem com Deus, é uma pessoa abençoada? É de se supor que haja gente rica que não tenha relacionamento algum com Deus.

A Bíblia fala do pobre e da pobreza. Em Deuteronômio 15.4, Deus dá orientações para que não haja pobre entre o povo de Israel. E a solução apresentada é de ordem econômica. Deus exige que a cada sete anos as dívidas sejam perdoadas sem cobrança de juros, para que não existam pobres. A causa apontada (nesse contexto) para a existência da pobreza também é de ordem econômica: o endividamento.

Em Levítico 25.10-55, Deus proclama o Jubileu, uma série de medidas econômicas limitando o direito à propriedade, assim como o direito de explorar o trabalho alheio. Era um modo de evitar a pobreza, sanando a situação a cada cinqüenta anos, uma vez que a cada cinco décadas a sociedade voltava ao estado de igualdade. Mais uma vez a pobreza é relacionada com questões de ordem econômica, e o Jubileu é um modelo econômico de reordenamento das relações, de modo a erradicar a causa da pobreza, que nesse contexto era a perda da posse da terra.

Desde a promulgação de sua lei, e diante da desobediência à mesma, Deus vem estabelecendo práticas para que o pobre não seja desamparado, a fim de que a sociedade se aproxime do estado de igualdade.

Há a pobreza fruto de má administração, ou de irresponsabilidade, ou de desobediência ao Senhor. O livro de Provérbios está repleto dessas advertências, mas elas têm caráter pessoal e extemporâneo, sem cair no reducionismo de classificar a pobreza como resultado destes atos particulares.

Em Provérbios encontramos também uma série de advertências contra a exploração do pobre, assim como a orientação de que se deve cuidar dele e buscar a sua emancipação.

No Novo Testamento a busca pela erradicação da pobreza continua. É o que se vê na proposta de sociedade que se pode abstrair da fala de Jesus Cristo: “Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente” (Mc 10.42-45, NTLH).

Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seja exercido por meio do serviço a todos. Trata-se de uma sociedade em que todos sejam cidadãos, pois só numa sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo de todos é que a cidadania floresce.

Na sociedade do Cristo, o poder deve ser exercido dessa forma para que ela seja um espaço em que:

-- o uso da terra seja regulamentado tendo em vista o bem de todos, pois Deus não admite que alguém possa comprar casa sobre casa e terra sobre terra até ser o único morador do lugar (Is 5.8). Na sociedade do Cristo a terra tem de ser repartida entre todos, pois é para todos;

-- a riqueza seja distribuída com eqüidade, pois Deus quer que quem colheu demais não tenha sobrando, e quem colheu de menos não tenha faltando (2Co 8.15); haja consciência de coletividade; o imposto seja um instrumento legítimo de distribuição de renda;

-- o trabalhador usufrua da riqueza que produz, pois ele é digno de seu salário (Lc 10.7). Não se pode amordaçar o boi que debulha o milho (1Tm 5.18), isto é, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir do que produziu. Esta seria uma sociedade de trabalhadores para trabalhadores;

-- a criança tenha prioridade, pois Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca e ameaça com duras penas a sociedade que desviar as crianças de sua vocação divina: vocação à saúde, à educação, à segurança, à longevidade, ao emprego, enfim, a uma vida que possa ser celebrada;

-- os órfãos e as viúvas, isto é, os que tudo perderam, não fiquem desamparados; ao contrário, parte da produção deve ser destinada exclusivamente para estes, para que não haja miséria na sociedade. Trata-se de uma sociedade em que todos desfrutem do direito à dignidade; uma sociedade de cidadãos, pois só onde há dignidade há cidadania.

-- o idoso seja referencial de sabedoria, nunca um fardo, pois na Bíblia ele é o conselheiro que ajuda o jovem na sua caminhada e por este é visto como um mentor, como guardião dos valores que devem nortear a sociedade, como alguém que deve ser honrado, o cidadão por excelência, pois construiu e legou para as gerações que o sucedem.

Na sociedade preconizada por Cristo o conjunto de cidadãos é o estado, e todos são cidadãos. Por isso, o governo estaria a serviço de todos, o que significa estar sob o controle da cidadania. Assim, os direitos humanos seriam respeitados. E onde os direitos humanos são respeitados há previdência, isto é, o futuro do cidadão estaria assegurado; ele seria o beneficiário da riqueza que produziu. E previdência seria um conceito que abrangeria não apenas a saúde ou a velhice, mas a educação, a segurança, o emprego, o lazer, enfim, tudo o que dá qualidade à vida. Nessa sociedade, o governo seria um agente previdenciário, e o futuro seria, não algo que quanto mais remoto melhor, mas uma sucessão de presentes, em que cada dia traria a garantia de um futuro assegurado.

A pobreza é uma questão econômica e que tem de ser resolvida por via econômica, o que se logrará quando as proposições de Deus forem ouvidas.


Ariovaldo Ramos é pastor na Comunidade Cristã Reformada e na Igreja Batista de Água Branca, ambas em São Paulo.



O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz
sobre os dízimos e ofertas



Edir Macedo diz:

“As pessoas não devem dar ofertas para ajudar a igreja, mas para ajudar a si próprias. Quando dá está fazendo um investimento para si, na sua vida. É o que mostra a Bíblia. Quem dá tudo recebe tudo de Deus. É inevitável. É toma lá, dá cá [...]. Quando alguém faz um sacrifício financeiro, Deus fica sem opção. Ele tem a obrigação de responder, porque é sua promessa. É a fé. Basta seguir o que Deus disse: ‘Provai-me nos dízimos e nas ofertas’” (“O Bispo”, 2007, p. 207, 215).


A Bíblia diz:

A entrega de dízimos, ofertas e outras formas de contribuições financeiras é uma prática comum entre as igrejas cristãs ao longo dos anos. O dinheiro não é o assunto mais importante da vida cristã, mas a maneira como o crente lida com ele determina sua resposta em outras questões da vida (Lc 16.10-12). O cristão amadurecido não se deixará escravizar pela avareza e pelo apego ao dinheiro a ponto de ser mesquinho em seu compromisso com a igreja. Ao mesmo tempo, esse cristão não se deixará iludir pela presunção de que seu relacionamento com Deus é pautado pela barganha, pois as bênçãos de Deus não são negociadas.

No Antigo Testamento, a entrega do dízimo baseava-se na convicção teológica de que o Senhor é o dono de toda a terra, o doador e o preservador da vida (Sl 24). O dízimo era santo ao Senhor e sua entrega seria uma demonstração prática do reconhecimento da soberania de Deus sobre a terra, seus frutos e a própria vida do ofertante. Ao mesmo tempo, a entrega dos dízimos era a expressão prática da gratidão a Deus por suas bênçãos e generosidade para com a nação israelita. Logo, aquele ato tinha significado cúltico e ocorria em cerimônias acompanhadas de intensa celebração e adoração a Deus (Dt 12.5-19). A retenção do dízimo, porém, não estava sujeita às mesmas penalidades legais provenientes da desobediência civil da lei, como exclusão social e apedrejamento. A infidelidade do povo seria disciplinada por Deus por meio de catástrofes sociais e econômicas.

Há que se notar ainda que a entrega dos dízimos era tão central à vida da nação de Israel que Neemias a restituiu tão logo o povo foi liberto do cativeiro babilônico (Ne 13.10-14). A desobediência dessa prática, de acordo com o profeta Malaquias, equivalia ao pecado de roubar a Deus (Ml 3.6-12).

Além dos dízimos, a lei mosaica prescrevia outros tipos de contribuições, como era o caso das ofertas das primícias e das ofertas alçadas (Êx 23.16, 19; 34.22-26). Essas ofertas deveriam atender ao princípio da proporcionalidade, pois eram dadas segundo a bênção do Senhor sobre os ofertantes (Dt 16.10). Segundo as normas para essas contribuições, as ofertas das primícias eram especialmente apresentadas durante a Festa das Semanas, também chamada de Pentecoste ou Festa das Primícias, por ser realizada cerca de cinqüenta dias após a Páscoa e por coincidir com os primeiros frutos da colheita anual em Israel (Nm 28.26). Parte dessas ofertas era dedicada ao sustento do pobre, do órfão e da viúva; outra parte, à realização de uma ceia comum; e ainda uma terceira parte destinava-se ao sustento dos sacerdotes. Enquanto o dízimo era anual e trienal, as ofertas poderiam ser entregues em várias ocasiões do ano, especialmente na época das colheitas ou eventos festivos. Tanto os dízimos como as ofertas eram entregues em reconhecimento da soberania e generosidade de Deus para com a nação de Israel (Dt 26.1s).

É verdade que o Novo Testamento não apresenta diretrizes claras sobre a entrega do dízimo pelos cristãos e esse fator é, no mínimo, surpreendente. Há três referências ao dízimo nos Evangelhos, e elas devem ser analisadas em seus contextos respectivos. A primeira encontra-se na parábola do fariseu e o publicano, na qual o fariseu se orgulhava de entregar o dízimo de tudo quanto ganhava (Lc 18.9-14). Ao contar essa parábola o propósito de Jesus foi condenar a atitude daqueles que “confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (v.9). Dessa forma, o que foi condenado na parábola não foi a prática da entrega do dízimo, mas o fato de o fariseu depender de sua justiça própria em vez de apelar para a graça e misericórdia de Deus.

A segunda referência ao dízimo nos Evangelhos está em Mateus 23.23 ou no texto paralelo de Lucas 11.42. Nesses versículos Jesus também faz referência a uma prática comum dos escribas e fariseus, que pareciam extremamente zelosos quanto à obediência dos aspectos mínimos da lei (dar o dízimo da arruda e do cominho), mas negligenciavam a prática da misericórdia, da justiça e da fé. Jesus os reprovou dizendo que deveriam “fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” Na verdade, Jesus não censura os fariseus por darem o dízimo, mas por julgarem que o dízimo substituía a base real de seu relacionamento com Deus. Jesus condenou os fariseus e escribas por sua hipocrisia, e não pela prática da entrega dos dízimos.

O Novo Testamento é repleto de diretrizes a respeito das contribuições financeiras na igreja primitiva. Em primeiro lugar, há o registro de contribuições com o objetivo de auxiliar os necessitados na igreja. Em Atos há vários relatos sobre o compartilhamento de posses com o objetivo de atender aos necessitados na igreja (At 2.45; 4.34, 36-37). A primeira eleição de diáconos teve o propósito de promover certa assistência material a alguns menos favorecidos (At 6.1-6). A prática de cuidar dos necessitados tornou-se comum entre os cristãos a ponto de Paulo exortar os membros de uma igreja gentílica, Éfeso, a trabalharem para terem “com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28). Assim, a igreja primitiva incentivava contribuição para auxílio dos seus membros.

A prática sistemática da contribuição financeira no cristianismo primitivo que mais se aproxima da entrega do dízimo é aquela descrita como uma coleta a favor dos santos (1Co 16.1-3; 2Co 8-9). É importante observar que alguns cristãos receberam a exortação de Paulo com alegria e interpretaram a contribuição como um privilégio (2Co 8.4). Aquela coleta foi incluída na liturgia da igreja de Corinto (1Co 16.1-2) e deveria ser interpretada como uma expressão de generosidade, gratidão e adoração a Deus (2Co 9.10-13). Em outra ocasião, Paulo insistiu que aquela prática fosse interpretada como um ato de obediência ao evangelho de Cristo (2Co 9.13). Deve-se considerar o aspecto sistemático e o planejamento envolvido naquela coleta, a ponto de Paulo afirmar que a igreja de Corinto estava preparada havia um ano para fazê-la (1Co 16.1,2; 2Co 9.1-2). Por último, aquela contribuição seria proporcional, conforme a prosperidade do contribuinte (1Co 16.2). Dessa forma, todos os cristãos contribuiriam de forma igual, não em valor, mas no percentual.

Concluindo, a perspectiva do bispo Macedo sobre contribuições cristãs contraria o ensino das Escrituras sobre esse assunto. Segundo a Bíblia, o objetivo da contribuição do crente não é para ajudar a ele mesmo, mas para expressar sua gratidão a Deus, bem como o reconhecimento de que todo o seu sustento vem do Senhor. Sua interpretação de que o texto de Malaquias 3.10 — “provai-me nos dízimos e nas ofertas” — seja uma promessa que deixa Deus sem opção se parece mais com a doutrina espírita da “causa” e “efeito”. Somente o entendimento espírita do “toma lá, dá cá” justificaria semelhante interpretação. A contribuição cristã deve ainda ter o objetivo de ajudar os irmãos na fé, e neste sentido a igreja é fortalecida. Por último, a perspectiva bíblica sobre contribuição não tem a natureza comercial que o bispo defende. O Deus que se revela nas Escrituras nunca pode ficar refém do contribuinte, pois este não lhe faz favor algum.


Valdeci da Silva Santos é pastor da Igreja Evangélica Suíça e professor no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo.


O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz sobre o aborto


Edir Macedo diz:

“Sou a favor do direito de escolha da mulher. Em casos como estupro, má-formação do feto ou quando a vida da mãe está comprovadamente ameaçada pela gestação, não há o que discutir. Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é. Olhe só [Ec 6.3]: ‘Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele’ [...] O Brasil deveria se unir pelo direito da mulher de optar pelo aborto [...] Certamente grande parte de nossas mazelas sociais diminuiria. Pense comigo: é melhor a mulher não ter filhos ou ter e jogar o bebê na lata do lixo? [...] Vamos ser frios e racionais: é preferível a criança não vir ao mundo ou vê-la nos lixões catando lixo para sobreviver? Eu creio na Bíblia. Nesses casos, eu credito que o aborto é melhor do que nascer. A mulher precisa ter o direito de escolher” (“O Bispo”, 2007, p. 223).


A Bíblia diz:

O bispo Macedo influencia milhões de brasileiros através do poder midiático, por ser tido como ministro da Palavra de Deus. Poderia contribuir para uma cultura de vida, justiça, paz e de solidariedade simplesmente sendo fiel ao que as Escrituras expõem. Mas, quando admite, ensina e estimula uma prática elástica do aborto, como sendo uma questão de direito de opção da mulher, se alia às forças da anti-vida que saem das trevas e obscurecem a razão, insensibilizam corações e tornam nosso mundo cada vez mais cínico, frio, sem alma. Muitas legislações, apoiadas por eminentes teólogos, mesmo reafirmando a primazia do direito à vida, admitem o aborto em casos excepcionais, como em gravidez decorrente de estupro ou quando há indiscutível risco de vida para a mãe. Outra excepcionalidade que envolve muita polêmica entre peritos trata do estatuto do feto com má-formação. Estas três situações são objeto de controvérsia por envolver limites éticos e científicos e não podem ser uma questão fechada prematuramente. Envolvem demasiado sofrimento e requerem decisões de comitês de ética. Mas o que espanta é Macedo sacar a Bíblia como arma de morte. Faz uma apropriação indébita do texto de Eclesiastes (6.3), forçando-o a dizer o que não diz, mas o que Macedo deseja dizer. Isto não é “exegese”, e sim “eixegese”, violência ao texto.

A passagem bíblica em questão, em seu contexto, é como uma sátira, uma ilustração da pobreza do dinheiro em satisfazer plenamente ou espiritualmente uma pessoa. Em todo o capítulo 5 o sábio alerta sobre sua frágil base. Na maioria das vezes é mal repartido (5.9), dilapidado por estranhos (5.10). Mesmo que você disponha de riqueza, bens e honra (6.1,2), um estranho poderá desfrutá-los em seu lugar (6.2) e você acaba ficando com sofrimento. Imaginemos alguém com muitos bens, filhos e tempo de vida, ou seja, com todas as condições para desfrutar da existência e mesmo assim não a desfruta, e chega até a morrer em miséria e ficar insepulto. Temos aqui o alerta sobre o absurdo de depender de coisas, de trabalhar em vão, sendo infeliz pelo impasse de sentido e vazio existencial. Assim, até um não-nascido, um aborto, de fato é mais feliz por nunca vir a sofrer tais absurdos. Mas o texto jamais legitima o aborto.

Macedo é coerente com sua pregação segundo o espírito do capitalismo, atuando como os que transformam tudo em mercadoria avaliada pelo valor utilitário. Tratar questões humanas desta forma resulta num tipo de eugenia já praticada por déspotas sanguinários em busca de tipos ideais, com descarte dos deficientes e não-competitivos. É chocante sua afirmação sobre a razoabilidade do aborto como prática preferível ao abandono ou morte de bebês, ou como medida desejável para melhorar os indicadores socioeconômicos! Heil Hitler! Ave César! Viva Herodes!

Não conceder ao embrião abrigado no útero o direito de desenvolvimento pleno, por razões de conveniência e ordem utilitária e subjetivista, é negar a ordem natural da vida, é reforçar a pulsão de morte. A onda abortista é parte de uma cultura de dessacralização do corpo, de banalização do sexo, de afirmação ética narcisista, primado do gozo individual. O estímulo a qualquer forma de gozo sexual, com qualquer parceiro ou parceira, sem perguntas incômodas, é massivamente incutido na população e defendido por políticas públicas preocupadas apenas com a assepsia física. O que exige compromisso e permanência é exorcizado por indivíduos infantilizados que não assumem a plenitude de seus gestos. Nega-se a conexão da sexualidade com uma potencial gestação, fazendo o corpo negar a alma. Quando acontece uma gravidez, afirma-se, então, não se estar preparado para assumi-la; era apenas sexo esportivo, esqueceu-se a camisinha, enfim, algo deu “errado”! E que falácia o argumento que pretende considerar o feto como parte do corpo da mulher! O ainda não-nascido é sabidamente um outro ser. Mulheres que abortam voluntariamente ou por pressão do macho fujão não estarão livres de questionamentos da consciência, nem de lembranças, sonhos e sentimentos de perda. Quase sempre o aborto é vivenciado como trauma e compromete a auto-estima. De fato, a gestante é, arquetipicamente, guardiã da vida e qualquer violação deste princípio resulta em sofrimento; portanto, ela deve receber todo apoio do genitor masculino, de familiares e da rede social.

É sabido que grávidas abandonadas por parceiros e decididas a abortar, quando apoiadas por amigas e instituições, em sua maioria decidem manter a gestação; portanto, é digno de louvor o trabalho samaritano do Cervi (Centro de Reestruturação para a Vida, www.cervi.org.br), em São Paulo, e abrigos do Exército de Salvação e da Igreja Católica, que oferecem apoio social, psicológico e médico, revertendo situações de desespero. Já nos primeiros documentos da Igreja cristã, o Didaquê, temos ensinamentos de defesa da vida intra-uterina. Reconhecer que o humano procede do humano, desde o instante da fecundação e em contínua evolução, é a base ética mínima que protege a possibilidade e a dignidade da existência. A própria justificativa para utilização de células-tronco com vistas a salvar ou curar outras vidas tem por base este “continuum”. Segundo o poeta bíblico, Deus tece o ser humano no ventre de uma mulher (Sl 139.13-16). Quem ousará interromper sua obra? A razão bíblica — a lógica do Espírito e a ação de Cristo — defendem a vida em todas as suas formas e fases. Se nossa civilização acorda, ainda que tardiamente, para a questão ambiental e esforços são feitos para a defesa de peixes, animais e florestas em extinção, quanto mais a espécie humana merece igual dignidade e proteção! Que loucura é esta reduzir o humano a um mero aglomerado de células sujeito ao capricho humoral de alguém?

Finalmente respondo ao bispo que o melhor é caminhar no espírito de Jesus. Nos casos já consumados, seguramente ele acolheria graciosamente uma mulher que cometeu aborto e diria algo como “não te condeno, mas veja que não peques”. Quem imagina Jesus aconselhando alguém a abortar, ele que é a ressurreição e a vida?


Ageu Heringer Lisboa, psicólogo e terapeuta familiar, é mestre em ciências da religião. É autor de Sexo: Espiritualidade, Instituto e Cultura (Editora Ultimato).




Hananias, o mago da prosperidade


Enquanto o Espírito Santo procura convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), certos pregadores apregoam a teologia da prosperidade.

O problema não é de hoje. É multissecular. O profeta Jeremias fazia o que podia para convencer os reis e o povo de Israel da famosa tríade que estava para chegar a qualquer momento: a guerra, a fome e a peste (Jr 14.12; 21.7; 24.10; 27.8; 29.17; 32.24; 34.17; 38.2; 42.17; 44.13). Enquanto isso, o profeta Hananias, no mesmo lugar e para o mesmo público, profetizava “prosperidade” (Jr 28.9, NVI e BP), ou “paz” (NTLH, ARA e BV), ou “felicidade” (Tradução da CNBB). Um e outro usavam a mesma introdução: “Assim diz o Senhor”.

Uma das notas de rodapé da Edição Pastoral Catequética explica: “Os falsos profetas lisonjeiam habitualmente o povo mediante promessas de prosperidade”. Outra nota, desta vez da Edição Pastoral, reforça: “Hananias é um falso profeta que recorre à demagogia, procurando dizer o que os ouvintes ‘gostam’ de ouvir e não aquilo que o povo ‘precisa’ ouvir”. Uma terceira nota de rodapé insiste: “[A prosperidade é] em geral a mensagem dos falsos profetas” (Bíblia de Estudos da NVI).

Jeremias não é o único profeta impopular da história de Israel. Todo verdadeiro profeta, por uma questão de compromisso, quase sempre diz o que não agrada. Mas sempre diz a verdade!



O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz sobre cura


Edir Macedo diz:

“A tradição religiosa ensina que devemos pedir todas as coisas dizendo ‘se for da vontade de Deus’. Conseqüentemente, poucas pessoas têm experimentado milagres de cura. Parece contraditório, mas a realidade é que muitos cristãos, e até pastores, acreditam que ‘talvez não seja da vontade de Deus curar’. Isso é diabólico, falso, abominável”. (“Folha Universal”, 4/05/08, p. 3.)


A Bíblia diz:

A nossa vontade nem sempre coincide com a vontade de Deus e a vontade de Deus deve ser levada a sério. Na oração modelo, o Senhor Jesus mesmo coloca em nossos lábios o respeito pela soberania de Deus: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). O próprio Jesus, em sua tremenda agonia no Getsêmani, três vezes seguidas suplicou a suspensão do cálice do sofrimento sem abrir mão da submissão devida a Deus: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt 26.39). Mesmo convencido várias vezes pelo Espírito de que passaria por prisões e sofrimentos em Jerusalém (At 20.22-24), o que foi confirmado dramaticamente por um profeta chamado Ágabo, o apóstolo Paulo não desistiu da viagem, apesar do pedido de Lucas e dos crentes de Cesaréia, que acabaram descobrindo que essa era a vontade de Deus (At 21.10-14).

A Bíblia diz que Davi já havia se arrependido do seu adultério e que a mão do Senhor já não pesava mais dia e noite sobre a sua cabeça (Sl 32.1-5), quando seu jejum e oração chorosos em favor da criancinha gravemente enferma não foram atendidos (2Sm 12.15-23).

Havia muitos leprosos em Israel (povo eleito) no tempo de Eliseu, todavia nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o gentio (Lc 4.27).

Timóteo era um homem doente. É Paulo quem nos dá esta informação: “Tome um pouco de vinho, por causa do seu estômago e das suas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23). Ora, será que sua avó Lóide, sua mãe Eunice, os presbíteros da igreja, Paulo (seu pai na fé e tutor eclesiástico) e ele mesmo, todos crentes, não oravam por sua cura?

Paulo foi obrigado a deixar Trófimo em Mileto, porque ele havia adoecido (2Tm 4.20). Cabe aqui a mesma pergunta: será que Paulo, os demais companheiros de viagem, a igreja de Mileto e o próprio Trófimo não clamaram em favor de cura?

É certo que a Bíblia encoraja a oração em favor dos doentes. É uma das obrigações da igreja, nem sempre levada avante: “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado” (Tg 5.14-15). Mas nem sempre o doente é levantado por Deus, não por falta de fé nem por ter cometido algum pecado não confessado. Muitos cristãos notáveis por este mundo afora adoecem, permanecem doentes e morrem.

A soberania de Deus tem que ser levada em conta. Ou será que a igreja primitiva não orou em favor de Estêvão, que foi apedrejado (At 7.54-59), nem de Tiago, irmão de João, que foi decapitado (At 12.1-2)? Será que ela só intercedeu em favor de Pedro, que foi milagrosamente libertado da prisão (At 12.3-19)?

Sindicato de mágicos
Acha-se disponível no Portal Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br) a tese de doutorado em História Social intitulada “Sindicato de Mágicos: Uma História Cultural da Igreja Universal do Reino de Deus”, defendida em 2007 na Universidade Estadual Paulista (UNESP). A autoria é de Wander de Lara Proença, 38, professor de história do cristianismo, movimentos religiosos contemporâneos e Novo Testamento na Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina, PR.


Fonte original da matéria acima: Revista Ultimato, edição Nº313 - Julho-Agosto 2008. Na íntegra: www.ultimato.com.br
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Os Nobres Bereanos - Por: Vincent Cheung

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Os Nobres Bereanos

Vincent Cheung
Título do original: The Noble Bereans

Copyright © 2005 por Vincent Cheung. Todos os direitos reservados.
Esta publicação não pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida
no todo ou em parte sem prévia autorização do autor ou dos editores.


Publicado originalmente por Reformation Ministries International
(www.rmiweb.org) PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto.
Primeira edição em português: Agosto de 2005.
Direitos para o português gentilmente cedidos
pelo autor ao site Monergismo.com


Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional
(NVI), ©2001, publicada pela Editora Vida, salvo indicação em contrário.

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ATOS 17:11

“Ora, os bereanos eram de caráter mais nobre do que os de Tessalônica, pois eceberam a mensagem com grande avidez, e examinavam todos os dias as Escrituras, para ver se o que Paulo dizia era verdade.

Quando ministros e crentes mencionam os bereanos, eles geralmente têm em mente um grupo de indivíduos que tinham discernimento, e que não eram facilmente enganados por qualquer nova mensagem que aparecesse, pois eles eram cuidadosos em checar tudo o que um pregador dizia com a Escritura. Esse não era um povo crédulo, e eles não aceitavam qualquer coisa que alguém ensinasse, a menos que viesse diretamente das Escrituras. E visto que a Escritura chama esse povo de “nobre”, é apropriado imitar o seu exemplo.

Este em si mesmo é um ensino bíblico sadio, e outras partes da Escritura também o confirmam. Por exemplo, 1 Tessalonicenses 5:21 diz: “Mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom”, e 1 João 4:1 adverte: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo”.

Contudo, ao dirigir a maior parte da sua atenção para a última porção de Atos 17:11, que diz que os bereanos “examinavam todos os dias as Escrituras, para ver se o que Paulo dizia era verdade”, muitas pessoas têm falhando em reconhecer o ponto principal do versículo, e um dos pontos principais da primeira metade de Atos 17.

A virtude real dos bereanos é afirmada pela ênfase principal do versículo, e não na explicação ou qualificação da ênfase principal do versículo. Visto que os bereanos são freqüentemente apresentados como modelos dignos de nossa imitação, uma visão distorcida ou parcial de sua virtude resultará numa imitação distorcida ou parcial, e assim, um caráter defeituoso precisamente na área na qual desejamos aprender deles.

A ênfase principal do versículo 11 é facilmente captada se simplesmente lermos o versículo inteiro, e então o versículo no contexto da primeira metade de Atos 17.

A palavra traduzida como “nobre” pode se referir à nascimento nobre ou caráter nobre. Ela é claramente usada no último sentido em nosso versículo. Quanto à de que forma os bereanos eram nobres, o versículo aplica a palavra a eles em contraste com o caráter dos “de Tessalônica”. Portanto, para entender o caráter nobre dos bereanos, devemos primeiramente retornar ao começo de Atos 17 e ler sobre os tessalonicenses:

"Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica. Segundo o seu costume, Paulo foi à sinagoga e por três sábados arrazoou com eles a partir das Escrituras, explicando e provando que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos. E dizia: Este Jesus que lhes proclamo é o Cristo. Alguns dos judeus foram persuadidos e se uniram a Paulo e Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus, e não poucas mulheres de alta posição."(Atos 17:1-4)

Sempre que Paulo chegava numa nova localidade em suas jornadas missionárias, era o seu costume visitar primeiro as sinagogas locais, de forma que ele pudesse pregar aos judeus (veja v. 10, 17).[1] Os judeus professavam a fé na Escritura, e deveria ser natural para eles abraçar avidamente uma mensagem que declarasse o perfeito cumprimento das promessas da Escritura. Assim, Paulo “discutiu com eles a partir das Escrituras”, e era sobre a base da Escritura que ele pregava o evangelho, e isso significava “explicar e provar que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos”.

Como resultado, vários do povo (tanto judeus como gregos) creram e foram salvos. Mas estes não eram os de “Tessalônica”, dos quais o versículo 11 está falando. Antes, os problemas parecem começar a partir do versículo 5:

"Mas os judeus ficaram com inveja. Reuniram alguns homens perversos dentre os desocupados e, com a multidão, iniciaram um tumulto na cidade. Invadiram a casa de Jasom, em busca de Paulo e Silas, a fim de trazê-los para o meio da multidão. Contudo, não os achando, arrastaram Jasom e alguns outros irmãos para diante dos oficiais da cidade, gritando: Esses homens, que têm causado alvoroço por todo o mundo, agora chegaram aqui, e Jasom os recebeu em sua casa. Todos eles estão agindo contra os decretos de César, dizendo que existe um outro rei, chamado Jesus. Ouvindo isso, a multidão e os oficiais da cidade ficaram agitados. Então receberam de Jasom e dos outros a fiança estipulada e os soltaram." (Atos 17:5-9)

Como resultado de uma resistência zelosa à mensagem do evangelho, esses judeus (Atos 17:5-9) incitaram um tumulto na cidade contra os apóstolos. Eles manipularam a situação contra esses pregadores do evangelho fazendo acusações enganosas contra eles.

O versículo 10 mostra como os cristãos ajudaram Paulo e Silas a escaparem para Beréia. Política religiosa é um mal horrível, e ela é abundante em nossos dias. Até mesmos nos melhores círculos cristãos, os conflitos religiosos são freqüentemente realizados, não pelo discurso racional, mas incitando também a multidão, e apelando à pressão social e política. Um lado do assunto é freqüentemente preferido pela multidão e pelas instituições, e assim os argumentos bíblicos e os apelos racionais são freqüentemente suprimidos e ignorados.

Algumas vezes uma aparência de refutação pode aparecer, mas mesmo então, freqüentemente a posição antibíblica e irracional ainda é apoiada mais por sua popularidade com as pessoas e as instituições do que pela revelação bíblica. Mas aqueles que permanecem firmes sobre a Escritura e a Razão[2] não precisam temer, isto é, exceto pelas próprias almas daqueles que os perseguem.

Em todo o caso, é no contraste com esses tessalonicenses que o versículo 11 louva o caráter nobre dos bereanos. Conseqüentemente, devemos esperar que a virtude dos bereanos seja o oposto do vício dos tessalonicenses. Imediatamente percebemos que essa virtude não pode ser aquela deles checarem a pregação dos apóstolos; de outra forma, isso implicaria que o vício dos tessalonicenses era o de que eles criam muito rápido no evangelho, mas os versículos 5-9 nos diz o oposto.

A virtude dos bereanos era o oposto do vício dos tessalonicenses em que os bereanos “receberam a mensagem com grande avidez”. Diferentemente dos judeus em Tessalônica, os bereanos não duvidaram ou resistiram à mensagem do evangelho, e eles não perseguiram os pregadores ou lhes deram tempos difíceis. Essa é a ênfase principal no versículo 11, e quando procurando imitar os bereanos, essa é a característica que devemos primeiro reconhecer e considerar.

Muitos comentários falham em reconhecer essa ênfase primária ou lhe dar o lugar devido em suas exposições, e nesse momento eu não me lembro de ter ouvido nem sequer um ministro que tenha feito desse o ponto principal em seu sermão, quando ele pregou sobre o versículo 11. Eu não duvido que alguns ministros tenham reconhecido o ponto primário do versículo e tenham pregado de acordo com ele, mas esses exemplos parecem ser pouquíssimos. Pelo contrário, o versículo é mui freqüentemente usado para ensinar o discernimento, e duma forma que obscurece a característica positiva da aceitação ávida da palavra de Deus.

Juntamente com muitos outros, Matthew Henry é uma notável exceção nessa negligência. Para um comentário que tinha que cobrir tantos assuntos, ele, apesar disso, devota uma seção significante sobre como os bereanos eram ávidos em receber o evangelho. A seção que imediatamente segue, sobre discernimento, é apenas levemente longa. Ele escreve:

Eles nem prejulgaram a causa, nem foram embora com inveja dos administradores dela, como os judeus em Tessalônica o fizeram, mas muito generosamente deram tanto a ela como a eles uma justa audiência... Eles não fizerem querelas com a palavra, nem encontraram defeito, nem procuraram ocasião contra os pregadores dela; mas deram-lhe boas vindas, e colocaram uma construção cândida sobre tudo o que foi dito. Nisso eles eram mais nobres do que os judeus em Tessalônica...[3]

É somente com isso em mente que podemos entender apropriadamente o versículo 11, e entender com que atitude os bereanos “examinaram as Escrituras”. Os bereanos eram nobres em caráter, não porque eles eram duvidosos ou difíceis de convencer, mas porque eles eram ensináveis e receptivos ao evangelho. Por essa razão, algumas traduções e comentários sugerem traduzir “nobres” como “liberais”, “generosos”, “despreconceituosos” ou “mente-aberta”.[4]

Contudo, essa “mente-aberta” é ao mesmo tempo específica e restrita. É nesse ponto que deveríamos proceder para a parte final do versículo, que nos diz que, embora os bereranos fossem ávidos para ouvir a palavra de Deus, eles não eram de forma alguma pessoas tolas ou crédulas. E porque já temos considerado o ponto principal do versículo, que é dizer que eles eram ensináveis e receptivos ao evangelho, estamos prontos agora para considerar como essa abertura é qualificada.

Eles não eram como o povo de Atenas, que “não se preocupavam com outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades” (v. 21). Eles não eram ávidos para ouvir os apóstolos por causa de uma mera curiosidade ou para estímulo ou entretenimento intelectual, e eles não estavam simplesmente abertos para qualquer nova teoria ou doutrina que pedisse sua atenção. Antes, eles estavam interessados em aprender a verdade, e, verificar se “aquelas coisas eram assim” (KJV), e não simplesmente em ouvir algo que soasse interessante ou incomum. E para determinar se “aquelas coisas eram assim”, ou seja, as que Paulo pregava, eles “examinavam as Escrituras”.

Assim, eles mostraram que eles tinham “mente-aberta”, não no sentido de que eles eram tolos ou crédulos, e ainda menos relativistas ou pluralistas. Eles não estavam abertos para qualquer coisa ou qualquer um. Mas, aspirando a verdade, eles mostraram que sua abertura era racional, e por examinar as Escrituras, eles mostraram que sua abertura era bíblica, de forma que todas as teorias e doutrinas não-bíblicas eram excluídas logo no início. Isso também é parte de seu caráter nobre, e é também o que os crentes hoje devem imitar.

Além do mais, visto que é dessa maneira e sobre essa base que “muitos deles creram”, isso mostra também que a sua resposta “não era uma mera resposta emocional ao evangelho, mas uma baseada na convicção intelectual”.[5] A fé deles era uma fé genuína, uma convicção intelectual sobre a verdade revelada, e uma vida espiritual fundamentada nessa convicção bíblica e racional pode sobreviver aos testes de perseguição e tentação.

Assim como devemos seguir seu exemplo como ouvintes, não deveríamos ficar satisfeitos com nada menor da nossa audiência como pregadores. E isso significa que os ministros cristãos devem se esforçar para serem o mesmo tipo de pregadores que os bereanos ouviam, de forma que, como Paulo, devemos pregar e arrazoar “a partir das Escrituras, explicando e provando” Cristo aos nossos ouvintes.

Ainda, por causa da forma desequilibrada com que muitas pessoas têm aplicado nosso versículo, devemos novamente relembrar a nós mesmos de seu ponto principal, e a razão principal pela qual os bereanos foram chamados nobres. Eles não foram elogiados porque eram suspeitos e hostis, mas porque eram ávidos em ouvir o evangelho.

A atitude deles era: “Você tem nos trazido uma boa mensagem de Deus, vejamo-la também a partir das Escrituras”, e não, “Não nos faça de estúpidos e crédulos. Não vamos deixar você partir impune, e não queremos crer em nada que você diga, a menos que a prove para nós a partir das Escrituras”. Ora, a primeira atitude não reflete qualquer credulidade também, mas é caracterizada por um caráter nobre, uma abertura à revelação de Deus.

Deus não é agradado quando o discernimento se torna resistência e dureza de coração disfarçado. Como a Escritura diz: “Hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Hebreus 4:7). Cristãos de caráter “nobre” não são maliciosamente suspeitos, mas são inteligentemente ensináveis. Eles respeitam os mensageiros de Deus; são ávidos em ouvir a Palavra de Deus; e rápidos para crer e obedecer.

Assim, se vamos imitar os nobres bereanos, então recebamos prontamente a palavra de Deus de ministros fiéis, e seremos tão ávidos em afirmar e praticar a verdade que eles proclamam que examinaremos a Escritura “todos os dias” (v. 11), de forma que construiremos nossa fé e adoração correta sobre a firme rocha da revelação também.

Continuemos a ensinar os crentes a “testar todas as coisas”, mas quando falarmos sobre os bereanos, relatemos também acuradamente a natureza de seu caráter nobre, que eles eram ávidos em ouvir e receber a palavra de Deus. E nós não devemos perder essa devoção simples à palavra de Deus, mesmo que pensemos já ter adquirido muito conhecimento e discernimento; antes, permaneçamos humildes, ensináveis – e nobres.


Notas:

1 - Para uma exposição detalhada sobre a segunda metade de Atos 17, na qual Paulo trata com uma audiência não-judaica, incluindo alguns filósofos gregos, por favor, veja meu Confrontações Pressuposicionalistas, capítulo 2.
2 - A Escritura é a revelação de Cristo a Razão, ou Logos, e somente o que é escriturístico é racional. Nesse sentido, eu equaciono os dois.
3 - Matthew Henry's Commentary, Vol. 6: Acts to Revelation (Hendrickson Publishers), p. 179.
4 - Embora essas traduções sejam consistentes com o significado intencionado do versículo, é melhor reter “nobres”, visto que a palavra original se refere a algo de alta qualidade, seja em termos de nascimento como de caráter. O contexto basta para nos dizer em que sentido e de que forma os bereanos eram nobres, e algo como “mente-aberta” parece muito interpretativo, perdendo algo do significado original do versículo.
5 - I.
Howard Marshall, Acts (Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1980), p. 280.


Fonte Original do artigo: www.monergismo.com

Autorização para publicação no blog Bereianos gentilmente cedida pelo responsável desta versão do artigo em Português: Felipe Sabino de Araujo Neto, autor do site monergismo.com

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(Não)Faz parte do meu show!

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Querida Ana Paula,

“Aquilo que a memória amou fica eterno”, compôs a poeta Adélia Prado. Perscruto os escaninhos da memória e descubro meu sobrinho mal sabendo falar, mas já cantando “Se tu olhares, Senhor, pra dentro de mim”. Alguns anos se passaram e a voz do Henrique continua doce e infantil. Ao olhar para sua trajetória no período, as mudanças foram bem mais sensíveis e um tanto esquisitas, Ana. Pode seguir a tua estrela. O teu brinquedo de 'star'.

Fui um dos primeiros blogueiros a divulgar sua performance leonina em Anápolis (GO). Como apregoa o jornalismo sadio, escrevi para os amigos do Diante do Trono a fim de abrir espaço para uma eventual manifestação sua. Eles me agradeceram com a costumeira fidalguia e fizeram chegar a você a informação. Sem obter qualquer tipo de resposta, postei o vídeo. Não me arrependi, como aconteceu com outro rapaz. Até hoje o fogo da discussão permanece aceso e mesmo seus fãs mais entusiasmados coram ao relembrar a cena patética.

Pra que usar de tanta educação. Pra destilar terceiras intenções. Seu silêncio sobre o assunto durou cerca de seis meses. Em meio a uma logorréia nonsense, você creditou a Deus a responsabilidade da patacoada. Infelizmente, os resultados mostraram que o animal da tal unção estava mais para hiena do que leão, tal o nível das piadas e deboches que se seguiram.

Fiz outras visitas ao seu blog e cada dia me assustava mais com o que lia. Até mesmo atos prosaicos como escolher uma roupa eram atribuídos ao Espírito “fashion” Santo. O cinto preto largo representava autoridade e botas pretas transmitiriam “força, poder, autoridade e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente, na cabeça do diabo. Examinei meu guarda-roupa e, decepcionado, nada encontrei de “profético”. Inspirado por seus delírios, imaginei os pastores da Universal vestidos de caubóis nas sessões de descarrego. Aiôôô... Espora no capiroto, irmãos! Pequenas poções de ilusão.

Congresso do Diante do Trono. Litros de chororô e muito siri-canta-na-lagoa, perdão, na Lagoinha. Aliás, ainda não consegui entender o porquê de tantas palavras estranhas em línguas (a ordem pouco importa, no caso) nos eventos públicos. Se contrariar a instrução paulina sobre esse assunto fosse estratagema eficaz, dona Sonia Hernandes estaria livremente batendo suas canelas episcopais em solo verde-amarelo. E sem a tornozeleira com GPS. Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...

“Os teatros serão fechadas para peças evangelísticas... O Senhor fará novelas para o povo brasileiro... Cairá todo meio de comunicação que não glorifica o Senhor...” Socorro, Ana Paula! Isso foi ato profético ou visão de um dos círculos do Inferno de Dante? Tô cansado de tanta caretice, tanta babaquice. Desta eterna falta do que falar. Deus nos livre de Racine, Beckett e Molière serem substituídos pela trupe gospel. Proscênio não é picadeiro, com todo respeito aos artistas circenses.

Soube que rolou também a tal “unção do chulé”. Em vez de incentivar o serviço humilde, o ato foi criativamente entremeado por afirmações de que você e seu irmão seriam “curados” das críticas. No final da mis-en-scène burlesca, a água do “rio de Deus” foi jogada sobre os espectadores. Bobeira é não viver a realidade.

Infelizmente, o espaço nobre de que disponho aqui é inversamente proporcional à sua capacidade de protagonizar episódios bizarros. Você explicou que apareceu num programa brega de óculos escuros por causa de conjuntivite. Pela sucessão de “causos”, suponho que seja miopia crônica mesmo. Vide o lance da morte do fundador do Bloco Galo da Madrugada. Temo pelo futuro das reuniões de oração no país se você continuar a repetir que essas sandices são resultado de intercessão. O que me anima é ver o número crescente de pessoas discutindo bereanamente cada uma dessas ocorrências. Estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz.

Que Deus reavive em você o desejo de receber um “novo coração”. Quem teve a graça de ser aquinhoada com muitos talentos será intensamente cobrada, não é? Isso me motiva a interceder para que não se realizem em sua vida outros versos do poeta Agenor: O seu futuro é duvidoso; eu vejo grana, eu vejo dor. Minhas palavras podem parecer histriônicas, mas é genuíno meu desejo de ver águas purificadoras (ainda mais que as do Lete) banhando ministérios de música em todo o país, Ana. Tenho investido minha vida nesse intento, por isso jamais vou me calar, querida. Amando eu me acalmo e me desespero.

Big abraço

PS.: As preferências musicais do Henrique mudaram bastante. Hoje ele curte Akon, Boyz II Men e Queen. Prometi um CD do Cazuza para o espertíssimo garoto. =]

Autor: Sergio Pavarini

Fonte: http://pavablog.blogspot.com/2008/07/no-faz-parte-do-meu-show.html
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Pastores x Lobos - breve diagnóstico diferencial.

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Pastores e lobos tem algo em comum: ambos se interessam por ovelhas, gostam e vivem perto delas. Assim, muitas vezes, pastores e lobos nos deixam confusos ao tentarmos saber quem é quem. Isso porque os lobos desenvolveram uma astuta técnica para se disfarçarem de ovelhas interessadas no cuidado de outras ovelhas.

Parecem ovelhas, mas são lobos. No entanto, não é difícil distinguir entre pastores e lobos. O discernimento não é um expediente passivo como dom dado a poucos indivíduos, mas é importante arma de defesa que deve ser exercitada.


Observe estes comparativos, e tire suas próprias conclusões:


Pastores buscam o bem das ovelhas. Lobos buscam os bens das ovelhas.

Pastores gostam de convívios. Lobos gostam de reuniões.

Pastores vivem à sombra da cruz. Lobos vivem sob os holofotes.


Pastores choram por suas ovelhas. Lobos fazem suas ovelhas chorar.

Pastores possuem autoridade espiritual. Lobos são autoritários e dominadores.

Pastores têm esposas. Lobos tem coadjuvantes.


Pastores tem fraquezas. Lobos são poderosos.


Pastores olham nos olhos. Lobos contam cabeças.


Pastores apaziguam as ovelhas. Lobos as intrigam.


Pastores possuem senso de humor. Lobos se levam a sério.


Pastores são ensináveis. Lobos são donos da verdade.


Pastores colecionam amigos. Lobos possuem admiradores.


Pastores se extasiam com o ministério. Lobos aplicam técnicas religiosas.


Pastores se relacionam com outros pastores. Lobos competem entre si.


Pastores são pastoreados por mentores. Lobos rejeitam o pastoreamento de suas almas.


Pastores vivem o que pregam e pregam o que vivem. Lobos pregam o que não vivem.


Pastores vivem de salários e recursos que lhe são repartidos. Lobos enriquecem.


Pastores ensinam com a vida. Lobos pretendem ensinar com discursos.


Pastores sabem orar no secreto. Lobos gostam e só oram em publico.


Pastores vivem para suas ovelhas. Lobos se abastecem das ovelhas.


Pastores são humanos, reais. Lobos são personagens religiosos, caricaturas.


Pastores vão para o púlpito. Lobos vão para o palco.


Pastores são apascentadores. Lobos são marqueteiros.


Pastores são servos humildes. Lobos são chefes orgulhosos.


Pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas e da ovelha. Lobos se interessam pelo crescimento das ofertas.


Pastores apontam para Cristo e sua cruz. Lobos apontam para si e para as instituições religiosas, ou, seus impérios religiosos.


Pastores são usados por Deus. Lobos usam as ovelhas em nome de Deus.


Pastores falam da vida cotidiana. Lobos discutem o sexo dos anjos e etc…


Pastores se deixam conhecer. Lobos se distanciam e se escondem.


Pastores sujam os pés na estrada. Lobos vivem em palácios e templos.


Pastores alimentam as ovelhas. Lobos se alimentam de ovelhas.


Pastores buscam a discrição. Lobos buscam a auto-promoção.


Pastores conhecem, vivem e pregam a graça. Lobos vivem sem lei e pregam a lei.


Pastores usam as escrituras como texto. Lobos as usam como pretexto pra tudo.


Pastores se comprometem com o projeto do reino. Lobos tem projetos pessoais.


Pastores vivem uma fé encarnada. Lobos vivem uma fé mística-espiritualizada.


Pastores ensinam as ovelhas a se tornarem adultas. Lobos perpetuam a infantilidade das ovelhas.


Pastores lidam com a complexidade da vida sem respostas prontas. Lobos lidam com técnicas pragmáticas e jargões religiosos.


Pastores confessam seus pecados. Lobos expõe os pecados dos outros.


Pastores pregam O Evangelho. Lobos fazem propaganda de um evangelho.


Pastores são simples e comuns. Lobos são vaidosos e especiais.

Pastores lideram igrejas-comunidades. Lobos lideram igrejas-empresas.

Pastores pastoreiam as ovelhas. Lobos seduzem as ovelhas.


Pastores sabem dividir poder com outros pastores. Lobos não dividem poder com ninguém.


Pastores trabalham em equipe. Lobos são prima-donas e exercem monopólio.


Pastores ajudam as ovelhas seguirem livremente a Cristo. Lobos geram ovelhas dependentes e seguidoras deles próprios.


Pastores constroem vínculos de interdependência. Lobos aprisionam em vínculos de co-dependência.


Pastores se ocupam de pessoas e pregam A Palavra. Lobos se ocupam com coisas e pregam idéias.


Bem, os lobos estão entre nós e em nós.

Que o Espírito de Deus nos ajude a discernir quem é quem, e a sermos quem Ele quer que sejamos.

Autor: Osmar Ludovico.

Fonte: http://www.caminhocristao.com/?p=388#more-388
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