Abuso Espiritual - Cuidado!

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Data de Fundação: O abuso espiritual é tão antigo quanto as falsas religiões.

Organização Estrutural: O abuso espiritual pode ocorrer em qualquer organização estrutural, mas as estruturas mais autoritárias são ainda mais suscetíveis ao abuso espiritual sistemático.

Definição: Abuso espiritual é o uso impróprio de qualquer posição de poder, liderança, ou influência para satisfazer os desejos egoístas de um líder. Às vezes o abuso se origina em posições doutrinárias. Às vezes ele ocorre porque os interesses pessoais de um líder, ainda que legítimos, sejam satisfeitos de maneira ilegítima. Sistemas religiosos espiritualmente abusivos são comumente descritos como legalistas, controladores mentais, religiosamente viciadores, e autoritários.

Características Comuns:

1. Autoritarismo: A característica mais evidente de um sistema religioso abusivo, ou de um líder abusivo, é a ênfase excessiva em sua autoridade. Normalmente o grupo se diz ter sido estabelecido diretamente por Deus, e, portanto, seus líderes se consideram como tendo o direito de comandar seus seguidores.

Tal autoridade, supostamente, é derivada da posição que ocupam. Em Mateus 23:1–2 Jesus disse que “na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus”, uma posição de autoridade espiritual. Ainda que outros termos sejam usados, essa posição, nos grupos abusivos, é de poder, e não de autoridade moral. Àqueles que se submetem incondicionalmente, são prometidas bênçãos espirituais. A eles é dito que devem se submeter completamente, sem o direito de questionar os líderes; se os líderes estiverem errados, isso é problema deles com Deus, e Deus ainda assim abençoará àqueles que se submetem incondicionalmente.

2. Aparência Externa: O sistema religioso abusivo procura sempre manter uma aparência de santidade. A história do grupo ou organização quase sempre é distorcida para se dar a impressão de que ela tem um relacionamento especial com Deus. Os julgamentos incorretos e as índoles duvidosas de seus líderes são negados ou encobertos para que sua autoridade não seja questionada, e para manter as aparências. Padrões legalistas de pensamento e comportamento, impossíveis de serem mantidos, são impostos aos membros. Seu fracasso em manter tais padrões é usado como constante lembrete de que eles são inferiores aos líderes, e portanto devem se submeter a eles. Religião abusiva é, essencialmente, legalismo.

A religião abusiva também é paranóica. Apenas uma imagem positiva do grupo é apresentada àqueles que não fazem parte dele, porque a verdade sobre o sistema religioso abusivo seria obviamente rejeitada se fosse conhecida. Isso é justificado com base na alegação de que pessoas “mundanas” não entenderiam a religião, e portanto, eles não têm o direito de saber. Isso leva com que membros escondam das pessoas que não são membros algumas doutrinas, regras, e procedimentos internos do grupo. Principalmente os líderes, normalmente, mantêm segredos que não divulgam a suas congregações. Esse sigilo está baseado na desconfiança geral dos outros, porque o sistema é falso e não pode resistir a escrutínios.

3. Proibição de Críticas: O sistema religioso, por não ser baseado na verdade, não pode permitir questionamentos, dissensões, ou discussões aberta sobre questões. A pessoa que questiona se torna o próprio problema, ao invés da questão que ela levantou. As resoluções sobre qualquer questão vêm diretamente do topo da hierarquia. Qualquer tipo de questionamento é considerado como desafio à autoridade. O pensamento autônomo é desencorajado, sob a alegação de que ele leva à dúvida, que por sua vez é vista como sendo falta de fé em Deus e em seus líderes ungidos. Desse modo, os seguidores procuram controlar seus próprios pensamentos, por medo de que possam estar questionando Deus.

4. Perfeccionismo: Todas as bênçãos, nos sistemas abusivos, vêm através da desempenho próprio. O fracasso é seriamente condenado, e portanto a única alternativa é a perfeição. O membro, enquanto crer que esteja tendo sucesso em manter os requeridos padrões, normalmente exibe orgulho, elitismo, e arrogância. Entretanto, quando os tropeços e fracassos inevitavelmente ocorrem, o membro muitas vezes naufraga na fé. Aqueles que fracassam nos seus esforços são vistos como apóstatas, fracos, e são normalmente descartados pelo sistema.

5. Desequilíbrio: Os grupos abusivos têm de se distinguir de todos os outros grupos religiosos para que possam alegar serem únicos e especiais para Deus. Isso normalmente é feito através de uma ênfase exagerada em posições doutrinárias menos centrais (como por exemplo, profecias sobre os últimos dias), ou através de legalismo extremo, ou uso de métodos peculiares de interpretação bíblica. Dessa forma, suas conclusões e crenças peculiares são exibidas como prova de que são únicos e especiais para Deus.

Algumas Respostas Bíblicas

Existem vários exemplos de abuso espiritual na Bíblia. No livro de Ezequiel, por exemplo, Deus descreve e condena os “pastores de Israel” que apascentam a si mesmos e não as ovelhas, que não cuidam das doentes, desgarradas e perdidas, mas dominam sobre elas com rigor e dureza (Ez. 34:1–10). Jesus reagiu com indignação contra os cambistas no Templo, que exploravam os fiéis (Mt. 21:12–13; Mc. 11:15–18; Lc. 19:45–47; Jo. 2:13–16), e também contra aqueles que se importavam mais com suas próprias interpretações da Lei do que com o sofrimento humano (Mc. 3:1–5). Em Mateus 23, Jesus nos dá uma importante descrição dos líderes espirituais abusivos. Em Gálatas, Paulo argumenta contra aqueles que queriam impor um cristianismo legalista, subvertendo a mensagem do evangelho. Existem muitos outros exemplos na Bíblia.

Jesus Cristo era Deus encarnado, a segunda Pessoa da Trindade, o Criador do universo. Ele, obviamente, tem a mais alta e soberana autoridade espiritual. Ainda assim, Jesus não usou essa autoridade para subjugar seus discípulos; ele não abusou de sua autoridade para colocá-los sob o jugo de regras e regulamentos legalistas. Ao contrário, ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt. 11:28–30).

Nem tampouco Jesus procurava manter as aparências externas. Ele comia com publicanos e pecadores (Mt. 9:10–13). Aos fariseus legalistas, Jesus aplicou as palavras de Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt. 15:9). Ele condenou sua atitude: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” (Mt. 23:27–28).

Jesus não era paranóico como os líderes abusivos. Seu ministério era transparente ao publico (Jo.18:19–21). Ele não tinha nada a esconder. Jesus não só criticou os líderes religiosos por suas doutrinas errôneas (Mt. 15:1–9; 23:1–39; etc.), mas também, quando criticado, ele não os silenciou, mas deu-lhes respostas bíblicas e racionais às suas objeções (e.g., Lc. 5:29–35; 7:36–47; Mt. 19:3–9).

Jesus, ainda que ensinasse a Lei perfeita de Deus, colocava as necessidades legítimas das pessoas acima de regras ou regulamentos legalistas (Mt.12:1–13; Mc. 2:23–3:5). Ainda que nenhum ser humano seja absolutamente perfeito nessa vida (1 Jo. 1:8), podemos saber que já temos vida eterna (1 Jo. 5:10–13; Jo. 5:24; 6:37–40; Rm. 8:1–2).

Os fariseus eram um exemplo de líderes espirituais abusivos: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt. 23:23).

Efeitos do Abuso Espiritual

O abuso espiritual tem um efeito devastador na vida das pessoas. Elas normalmente depositam um alto grau de confiança em seus líderes, os quais deveriam honrar e guardar tal confiança. Quando essa confiança é traída, a ferida que se abre é muito grande, até mesmo a ponto da pessoa nunca mais poder confiar em líderes espirituais novamente, mesmo que eles sejam legítimos.

Uma situação análoga pode ser vista nas vítimas de incesto, que apresentam sintomas emocionais e psicológicos muito parecidos com os vistos naqueles que são abusados espiritualmente. O principal sintoma é a incapacidade que desenvolvem em se relacionarem normalmente com pessoas que representem ou tenha alguma associação mental com a fonte de sua dor emocional.

Além de desenvolverem medo e desilusão com relação a líderes religiosos, as vítimas de abuso espiritual muitas vezes têm dificuldade em confiar em Deus. Eles se perguntam, “como é que Deus pode ter permitido que isso acontecesse comigo? Tudo o que eu queria era amá-lo e servi-lo!” Muitas vezes, essas pessoas desenvolvem grande rancor. A raiva, por si própria, não é necessariamente pecado, pois até mesmo Deus se ira contra a injustiça (veja acima). Entretanto, se esse rancor não for progressivamente eliminado, ele pode estabelecer raízes de amargura e incredulidade com relação a tudo que seja espiritual.

Recuperando-se do Abuso Espiritual

Para que haja uma recuperação dos males causados pelo abuso espiritual, é preciso que a vítima entenda o que aconteceu, por que aconteceu, e como aconteceu. Ela também precisa entender que ela não é a única pessoa vitimada por esse tipo de abuso. Ela deve procurar grupos de apoio, e ser contínua e pacientemente ensinada sobre a graça de Deus. Os grupos de apoio são necessários não só para que a vítima seja ministrada pelo grupo, mas também para que ela possa usar sua experiência para ministrar a outras vítimas, o que é essencial para a sua recuperação.

A vítima também deve procurar eventualmente perdoar os que a abusaram. Normalmente alguns anos são necessários para que uma vítima de abuso espiritual possa ser totalmente restaurada.

Traduzido e adaptado com a permissao de Watchman Fellowship, Inc.
Tradução e adaptação: Marcelo Parga de Souza
Fonte: http://www.agirbrasil.org

Para saber mais sobre abusos espirituais de falsos líderes manipuladores, clique aqui e veja a matéria completa sobre o tema. Altamente recomendado!
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Entrevista João Alexandre - Audio!

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Entrevista com João Alexandre onde o mesmo comenta sobre seu último trabalho e a certa polêmica causada pela música "É proibido pensar". Vejam, vale a pena:

Obs.: Esta gravação foi feita em uma rádio secular, por isso no decorrer da mesma toca algumas músicas seculares. Portanto, examinai tudo, retenha o que é bom, ok?

Vendendo Jesus como um produto!

Chegamos ao mais fundo do cúmulo do absurdo! Estão vendendo Jesus como um produto! Teologia da prosperidade para variar. Vejam este vídeo absurdo! O mesmo é dos EUA, porém se fizermos um paralelo com o Brasil veremos que muitos já estão seguindo pelo mesmo caminho.






Veja abaixo como estes falsos pregadores da teologia da prosperidade pregam e enganam a muitos:






Agora neste video abaixo,veja como estes "mentores" da teologia da prosperidade tem influenciado alguns no Brasil:






“Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos...” Mateus 24:11

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.” Mateus 7:15

“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” II Pedro 2:1

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” I João 4:1

“Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus." 2 Co 2:17

Óleo de unção em Spray...ops... spray?

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Acreditem meus amigos!

Mais comércio Gospel... Vou comentar o mesmo (em verde), vejam esta matéria abaixo:

"O Aroma Gospel é uma empresa que nasceu com um sonho de ter produtos de ótima qualidade e excelência para atender ao público evangélico. Nesta entrevista a Bispa Ana Almeida, SNT do Rio de Janeiro, descreve como surgiu a idéia, ao lado das sócias: pastora Alda Célia e Neuzi Pantera, do lançamento deste óleo abençoado e também explica que uma das primeiras providências da nova empresa é criar um aroma (spray) que irá perfumar todas as igrejas Sara Nossa Terra do Brasil e exterior.

A idéia

Quando a pastora Alda Célia voltou de Israel, ano passado, o que mais me impressionou foi que estávamos buscando um óleo que tivesse boa qualidade, um ótimo aroma e que acreditamos que representasse a unção. Ela trouxe um óleo de ótima qualidade e tivemos todo o cuidado nos detalhes, como por exemplo em fazer uma embalagem bonita e prática através do spray. É uma coisa prática para que a pessoa ficasse com aquele aroma lembrando da unção.

(aroma gospel? vix... este aroma seria um óleo abençoado de boa qualidade em spray, aquele mesmo que é utilizado para "ungir" as pessoas nas igrejas. É mole? Já não bastava a utilização do óleo de maneira mística, agora inventaram o spray! vai uma burrifada aí?)


Mercado Evangélico

Porque não consumir produtos que saibamos da procedência debaixo de todos os conceitos bíblicos? E também a empresa nasce onde colocamos Deus como nosso sócio, ou seja, 10% da empresa pertence a Ele. Nosso sonho é ser uma empresa modelo e as pessoas verão que é possível ter um negócio cumprindo todas as leis e ser abençoado.

(Como é????? Colocar Deus como sócio do negócio??? Poxa, um "sócio" com somente 10% de parte da empresa??? Que eu saiba tudo pertence ao Senhor, pois ele é o criador de tudo e de todos. Agora dar somente 10% para o sócio, ainda que o mesmo seja nosso Deus? A que ponto chegou o abuso!)


Aroma Sara Nossa Terra

Nossa primeira providência agora será trabalhar em cima do aroma que irá perfumar as igrejas. Já que a Sara Nossa Terra está com este projeto de padronizar o visual, vamos trabalhar em cima de um spray que possa ser colocado no ambiente. Como todos estão gostando do cheiro da mirra, pois é forte e ao mesmo tempo suave, estamos pensando em tornar o cheiro da mirra a nossa essência. E todos que entrarem na Sara Nossa Terra irão sentir o cheiro da unção.

(Spray para ambiente... em outras palavras, "bom ar" gospel... essa tem que rir!)


Conceito de adoração

Quando montamos a empresa estávamos pensando em que produzir, pois a Alda tem uma abrangência muito grande no Brasil. Queríamos divulgar um produto que não deixasse de trazer um conceito de adoração. Inaugurar a empresa com este óleo teve um significado muito grande para nós. Pois estamos em busca desta unção de adoração e as pessoas irão poder ficar com aquele cheirinho gostoso.

( "Conceito de adoração" através do "óleo em spray"????? Em que sentido um óleo em spray poderá nos levar a "adorar a Deus"????)

Fonte: Site Oficial Sara Nossa Terra



Resumindo... mais um modismo que inventaram para o "povo gospel" através de distorções Bíblicas.

Cuidado povo de Deus!!!

Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Não será um óleo em spray que irá leva-lo a uma adoração verdadeira com o Pai ou qualquer outro fetiche, mas sim seu coração voltado para uma vida baseada na Palavra de Deus.

"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." Jo 4:23-24

Pregações Bìblicas Parte 1

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Olá irmãos. Estive meditando na Palavra sobre este Blog, e me veio a responsabilidade de estar postando também algumas mensagens Bíblicas para que possamos nos edificar também neste espaço. Se você quiser colaborar com alguma mensagem, envie-nos um email com o link da mesma: Email Bereianos

Segue abaixo algumas mensagens do Pastor Neil Barreto que, na minha opinião é um exemplo de pregador da Palavra de Deus. Então, momento de edificação para os Bereianos, aproveitem estas belíssimas mensagens. Examine as mesmas e retenha o que é bom, ok?



A Dinâmica da Dor.

A Dor como expressão de amor a Deus.

A Igreja Despersonalizada.

A Um Passo da Queda.

Aprendendo a Lidar com as Perdas.

A Dinâmica do Amor de Deus Jo3

Aprendendo com Tomé Jo20

Ansiedade e pecado Fp4

A verdadeira espiritualidade At5

Buscando Jesus em Vão Jo6

Conquistando o favor de Deus Mt15

Aprenda a dizer não Dn1

Convertei-vos At2

Deus nos conhece intimamente Mt17

Descanso e alívio - Direito em Cristo Mt11

Considerai Vosso Caminho Ag1

Deus X Lógicas Humanas Ec7

Não se Antecipe a Deus Gn 16

Jesus e as Carências Humanas Mc6

O Fracasso da Vitória Jz11

O Pão da Vida Jo6

O sofrimento que não se explica Jó22

Há Morte na Panela 2Rs4

Fabricando a própria forca Et5

O Que Pode me Dar Esperança Lm3

Vencendo a Inconstância Sl42

Orgulho do Evangelho, não da religião Rm1

Toma a tua Cruz Mt 16

Vai para tua Casa Mc5

Superando o dia mau Ef6

Um homem quase salvo Lc18

Tudo É Vaidade Ec1

Transcender Ir Além At16

Possibilidades e livramento Sl7

O Verdadeiro Amigo Mc2


Desabafo de um professor de Teologia

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(20-01-08) Obs.: Autor do texto abaixo: Dr. Carlos Eduardo Calvani - Professor de teologia e coordenador do Centro de Estudos Anglicanos, em Londrina (PR)

Sou um professor de Teologia em crise. Não com minha fé ou com minhas convicções, mas com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como Professor em Seminários Evangélicos presbiterianos, batistas, da Assembléia de Deus e interdenominacionais desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.

No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em Seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.

Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: "não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério". Trata-se do mais típico caso de "certeza da vocação" adquirida na ignorância.

E, invariavelmente, esses são os alunos que mais transpiram preguiça intelectual.

A grande maioria dos novos vocacionados chega aos Seminários influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam "levitas". Outros, dizem que estão ali porque são vocacionados a serem "apóstolos".

Ultimamente qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na igreja, se auto-denomina "levita". Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no Templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de "força policial" para manter a ordem nas celebrações. Porém, hoje em dia, para os "novos levitas" basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos.

Outros há, que se auto-intitulam "apóstolos". Dentro de alguns dias teremos também "anjos", "arcanjos", "querubins" e "serafins". No dia em que inventarem o ministério de "semi-deus" já não precisaremos mais sequer da Bíblia.

Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de "progressista". Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, "saudosista" ou "nostálgico" seriam expressões melhores.

Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto.

Atualmente os chamados "momentos de louvor" mais se assemelham a shows ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso.

Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas Igrejas Protestantes. Muitas pessoas vão à Igreja muito mais por causa do "louvor" do que para ouvir a Palavra que regenera, orienta e exige de nós obediência. Dias atrás, na semana da Páscoa comentei com um grupo de alunos a respeito da liturgia das "sete palavras da cruz" que seria celebrada em minha Igreja na 6a feira. Alguns manifestaram desejo de participar. Eu os avisei então que se tratava de uma liturgia que dura, em média, uma hora e meia, durante a qual não é cantado nenhum hino (pelo menos na tradição de minha Igreja - Anglicana), mas onde lemos as Escrituras, oramos e meditamos nas sete palavras pronunciadas por Cristo durante a crucificação. Ao saberem disso, um deles disse: "se não houver música, não há culto".

Creio que, em parte, isso é reflexo da cultura pop, da influência da "Geração MTV", incapaz de perceber que Deus pode ser encontrado também na contemplação, meditação e no silêncio. Percebo também que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os "artistas" e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a "identidade" das igrejas evangélicas. Houve tempo em que um presbiteriano ou um batista sabiam dar razão de suas crenças.

Atualmente, tudo parece estar se diluindo numa massa disforme. Trata-se da "xuxização" ("todo mundo batendo palma agora... todo mundo tá feliz ? tá feliz!") do mundo evangélico, liderada pelos "levitas" que aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra, estão cativos da cultura gospel.

Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: O relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada "secular". Amedrontados com as muitas opções que o "mundo" oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das Igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento.

Um aluno disse-me que, no dia em que os evangélicos tomarem o poder no Brasil acabarão com o carnaval, as "folias de rei", os cinemas, bares, danceterias etc. Assusta-me o fato de que o desenvolvimento dessa sub-cultura "gospel" torne o mundo evangélico tão guetizado que, se um dia, realmente os evangélicos tomarem o poder na sociedade, venham a desenvolver uma espécie de "Talibã evangélico". Tal como as estátuas do Buda no Afeganistão, o "Cristo Redentor" estará com os dias contados.

Esses jovens que passam o dia ouvindo rádios gospel e lendo textos de duvidosa qualidade teológica, de repente vêm nos Seminários uma grande oportunidade de ascensão profissional e buscam em massa os seminários. Nunca houve tanta afluência de jovens nos seminários como nos últimos anos.

Em um seminário em que trabalhei (de outra denominação), os colegas diziam que a Igreja, em breve teria problemas, pois o crescimento da Igreja não era proporcional ao número de jovens que todos os anos saíam dos Seminários como bacharéis em teologia, aptos para o exercício do ministério.

A preocupação dos colegas era: onde colocar todos esses novos pastores?

Na minha ingenuidade, sugeri que seria uma grande oportunidade missionária: enviá-los para iniciarem novas comunidades em zonas rurais e na periferia das cidades. Foi então que um colega, bastante sábio, retrucou: "Eles não querem. Recusam-se! Querem as Igrejas grandes, já formadas e estabelecidas, sem problemas financeiros".

De fato, percebi que alguns realmente se mostravam decepcionados ao saberem que teriam que começar seu ministério em um lugar pequeno, numa comunidade pobre, fazendo cultos nos lares, cantando às vezes "à capella" e sem o apoio dos amplificadores e mesas-de-som.

Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino.

Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles, como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar.

Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que "falando para as paredes". Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre que "voltar aos rudimentos da fé" e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas Igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos nas Escolas Dominicais. Não sei se isso acontece em todos os Seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.

Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo, e sim aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.

Dr. Carlos Eduardo Calvani

Professor de teologia e coordenador do Centro de Estudos Anglicanos, em Londrina (PR)

Fatos e Fotos 2 - Alerta geral!!!

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“Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos...” Mateus 24:11

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.” Mateus 7:15

“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” II Pedro 2:1

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” I João 4:1

Segue abaixo um festival de aberrações que estão sendo praticadas por algumas denominações evangélicas. Que sirva de alerta ao Povo de Deus:



Estas fotos acima, acreditem, são pessoas recebendo
uma tal de "unção do cachorro".

Isso mesmo, unção do cachorro.
Clique aqui para ver o video com esta aberração.



Ana Paula Valadão recebendo a "unção do leão".
Mais um modismo
que só o Diante do trono trás para você.
Clique aqui para ver o vídeo.



Essa é a famosa "unção do filtro da Bíblia" do
Pr Ouriel de Jesus - Igreja de Boston,
Quem toca na Biblia
dele cai na unção. Engraçado que só ele é quem não cai.
Para saber mais sobre esta heresia, clique aqui!



Assim diz o anúncio deste óleo que é vendido por pouco mais de R$100,00:
"e Manaus no Brasil até as ilhas do Caribe e por todo os Estados Unidos,
temos visto moveres tremendos de Deus em cura e libertação
onde o óleo foi usado, também sendo uma poderosa arma na batalha espiritual."
Ou seja, mais um objeto comercializado que, se você adquirir, onde for
utilizado acontecerá milagres operados pelo "óleo". Mais um fetiche gospel.


"Contribua de acordo com a sua renda.
Para que Deus não torne sua renda segundo a tua contribuição".
Em outras palavras; barganha pura! Imagina o Terrorismo
que os membros desta igreja não devem passar.



"Geração apostólica" com direito a chofar profético e tudo.
Mais um modismo. Judaísmo misturado com restauração apostólica.
Os "novos apóstolos" estão aí proclamando um outro evangélho.



Essa é a famosa "unção do dente de ouro".
Clique aqui para ver mais detalhes desse modismo.


Está precisando "fechar o corpo"?
Faça um desencapetamento total.

Macumba gospel na sexta-feira forte!



Mandinga gospeú... tem que ir com fé ein.



Vai uma fezinha aí?
Quem sabe você não ganhe na loteria da barganha!

Coisas do sr. Bispo Pedir Maiscedo.


Por falar em IURD. Olha um pastor da mesma orando
pelos "dízimos e ofertas".
Clique aqui e veja o video,
tanta gente sendo enganada pelos pastores "malaquianos".
Vídeo antigo, porém é realidade até hoje, infelizmente.


+ Macumba gospel... ligue dja!!! Eu ein....



"Alvos" de oração!!! Hum... quanta pretensão ein?
Vemos que o sr Moris Cerulo realmente
está
influenciando este ministério.



Encontro "termendo" e os adoradores da "arca".
Só resosturando o véu e nada de Jesus...




Oia o mistério!!!



Tirando uma "sonequinha" durante o culto.
Essa aí é a tal da "unção do cai-cai".
Para quem não sabe Deus sempre levanta o caído!




A mais nova aliança... Bispo Rodovalho e Pai-póstolo Renê Terra Nova.
Entre outros. Essa dupla promete!



Carregando a arca? Mas peraê... não estamos na graça?
Acreditem, existe igrejas trazendo a lei novamente para nós...
Jesus fica aonde nisso tudo? Será a volta dos "levitas"?



Veja a primeira parte de "Fatos e fotos", clique aqui!


Objetos que Trazem Bênção e Maldição

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Um Estudo sobre o Uso de Objetos e a Fé


Um assunto que tem provocado muita polêmica em nossos dias é o ensino do moderno movimento de batalha espiritual acerca de objetos que têm o poder de abençoar e amaldiçoar aqueles que os tocam ou possuem. Nesse pequeno artigo, procuro compreender esse ensino e oferecer uma avaliação.

* Objetos que Trazem Bênção

Nos cultos de muitas igrejas de libertação, objetos variados são empregados como canais de bênção. Eles são ungidos (abençoados) nos cultos com o objetivo de passarem ao fiel algum tipo de benefício. Os mais comuns são a água fluidificada (colocada sobre o rádio ou TV durante a oração do “homem de Deus”), a rosa ungida, ramos de arruda, sal grosso, óleo, água, vinho, pedrinhas trazidos da “terra santa” (Israel), fitinhas, pulseiras e lenços.

Embora os líderes dessas igrejas insistam que esses objetos abençoados funcionam apenas como apoio para a fé dos crentes, ao fim, acabam sendo usados como talismãs, fetiches e outros objetos “carregados” de poder espiritual. Os seus possuidores devem usá-los de acordo com algum tipo de ritual, após o culto. A água pode ser bebida em casa, após a oração de consagração. O “cajado de Moisés” deve ser usado para bater naquilo que o crente gostaria de ter (um carro novo, por exemplo). Lenços ungidos devem ser carregados junto ao corpo por determinado tempo, geralmente durante o tempo de uma corrente de oração.(1)

Muitas vezes objetos são “abençoados” nessas igrejas com o objetivo de espantarem e expelirem demônios. A idéia que está por detrás desse uso religioso de artigos e objetos é o de que as entidades espirituais (anjos e demônios) podem ser atingidas através dos sentidos como cheiros, cores, gosto e vozes. Nesse ponto os cristãos do primeiro século se afastaram significativamente das práticas exorcistas do Judaísmo da sua época, que foram desenvolvidos no período intertestamentário. Os métodos rabínicos de tratar com demônios incluía o uso de tochas de fogo à noite, amuletos, filactérios,(2) fórmulas mágicas, fumigações, entre outros. A idéia era que essas coisas teriam em si algum tipo de poder mágico contra os demônios.(3) No cristianismo primitivo, entretanto, a idéia de que demônios pudessem ser atingidos através de sons, cheiros ou coisas materiais e tangíveis, está ausente.

É importante dizer que não duvido da sinceridade e da boa-fé dos que empregam esses objetos. Entretanto, podemos estar sinceramente enganados no que diz respeito ao culto a Deus, como os judeus na época de Paulo (Rm 10.1-2). É minha convicção que o uso desses objetos como apoio para fé ou canal de bênçãos não faz parte do culto agradável a Deus que nos é ensinado nas Escrituras.

* Entendendo o uso de objetos na Bíblia

Salta aos olhos de quem conhece as práticas religiosas populares que o uso de objetos ungidos pelas igrejas de libertação é bastante semelhante ao benzimento de objetos no baixo espiritismo, artes mágicas e no ocultismo em geral. Entretanto, essas igrejas argumentam que a prática tem base na Bíblia. Provavelmente a passagem bíblica mais citada é Atos 19.12, onde se relata o uso dos aventais e lenços de Paulo para expulsar demônios em Éfeso. É preciso salientar, entretanto, que esse acontecimento é o único do gênero que temos registrado no Novo Testamento. Fez parte dos “milagres extraordinários” que o Senhor realizou em Éfeso pelas mãos de Paulo (At 19.11).

Devemos interpretar essa passagem da mesma forma como interpretamos os relatos do Antigo Testamento sobre o cajado de Moisés (Ex 8.5,16) e o manto de Elias (2 Re 2.8,14). Esses objetos foram veículos materiais do poder miraculoso desses homens. O propósito das narrativas acerca do poder que havia neles foi mostrar o extraordinário poder de Deus nas vidas dos seus possuidores, comprovando que a sua mensagem vinha realmente da parte de Iavé. O ponto é que esse poder era tão grande que até as coisas com as quais Moisés e Elias tinham contato diário se tornavam canais através dos quais ele era transmitido.

Além dessas ocorrências no Antigo Testamento mencionadas acima, outros eventos são citados como justificativa para o uso de objetos como veículos do poder divino. Moisés fez uma serpente de bronze (Nm 21.9). Eliseu usou um prato novo com sal para miraculosamente sanar as águas de Jericó (2 Re 2.19-22), um pouco de farinha para purificar uma comida envenenada (2 Re 4.38-41), um pau para fazer flutuar um machado que caiu no rio (2 Re 6.1-7). Sob seu comando, as águas do Jordão serviram para curar a lepra de Naamã (2 Re 5.1-14). Seu bordão parece que era usado para realizar milagres (2 Re 4.29) e seus ossos ressuscitaram um morto (2 Re 13.20-21). O profeta Isaías usou uma pasta de figos para curar Ezequias (2 Re 20.7).

Alguns eventos narrados no Novo Testamento são também citados como prova. As vestes de Jesus tinham poder curador. Não somente a mulher com um fluxo de sangue foi curada ao tocá-las (Lc 8.43-46), mas muitas outras pessoas doentes (Mt 14.36; Mc 6.56; cf. Lc 6.19). Em pelo menos duas ocasiões, Jesus usou saliva para curar cegos (Mc 8.22-26; Jo 9.6-7), e em outra, para curar um mudo (Mc 7.33). Aparentemente, a sombra de Pedro, após o Pentecostes em Jerusalém, acabava por curar a quem atingisse (At 5.15).

Devemos entender, entretanto, qual o objetivo dessas narrativas. Em todas elas, o conceito é sempre o mesmo. Jesus e os apóstolos eram tão cheios do poder de Deus que as coisas com as quais tinham contato íntimo se tornavam como que em extensões deles, para curar e abençoar as pessoas. O objetivo é idêntico: enfatizar a enormidade do poder de Deus em suas vidas, e assim, atestar que a mensagem pregada por eles, bem como pelos profetas do Antigo Testamento, vinha de Deus. A prova eram os poderes miraculosos tão extraordinários que até mesmo vestes, bordões, ossos, saliva, sombra e lenços desses homens transmitiam o poder curador de Deus que neles havia. É dessa forma que devemos entender o relato de Atos 19 sobre o poder curador dos lenços e aventais de Paulo.

Evidentemente, essas passagens não servem como prova de que, hoje, as igrejas evangélicas podem abençoar objetos e usá-los para expelir demônios, proteger seus possuidores contra forças negativas e curar moléstias. Notemos as principais diferenças entre o uso destes objetos nos relatos bíblicos e o uso que é feito hoje pelas igrejas de libertação.

1. Foram usados como símbolos - Em vários casos, o papel de objetos na execução dos milagres bíblicos é melhor entendido como tendo sido simbólico. De alguma forma estavam relacionados à natureza do milagre: uma serpente de bronze para curar mordeduras de serpentes, um pedaço de pau para fazer um machado flutuar, sal e farinha para purificar águas e comida (os dois elementos eram usados nos sacrifícios), ossos para trazer vida e água do Jordão para “limpar” a lepra. Nas igrejas de libertação, muito embora se diga que os objetos funcionam simbolicamente como apoio para a fé, acabam sendo aceitos pelos fiéis menos avisados como possuindo em si mesmos alguma virtude ou poder.

2. A natureza dos milagres em que foram empregados - Os objetos fizeram parte de milagres que não vemos serem repetidos hoje. A melhor maneira de provar que o uso de objetos ungidos hoje opera a mesma liberação do poder divino como nos eventos relatados na Bíblia, seria abrir rios, ressuscitar mortos, curar leprosos, cegos e aleijados, sanear águas amargas e limpar comidas envenenadas usando objetos pessoais dos missionários e obreiros dessas igrejas. Entretanto, os “milagres” efetuados pelos objetos ungidos nas igreja de libertação nem de perto se assemelham aos prodígios extraordinários narrados nas Escrituras.

3. Seu uso limitou-se ao momento do milagre - Nenhum dos objetos empregados na Bíblia preservaram algum “poder” em si mesmos após o milagre ter ocorrido. A serpente de bronze, até onde sabemos, não foi mais usada para curar mordidas de serpentes após o incidente no deserto, muito embora os judeus supersticiosos passassem a adorá-la como a um deus. É natural supor que Eliseu, após usar o manto de Elias para abrir as águas, usou-o normalmente como peça do seu vestuário, sem que o mesmo exercesse qualquer poder mágico nas coisas em que tocava. O sal, a farinha e o pedaço de pau que ele usou para fazer milagres foram tirados da vida normal e retornaram a ela após seu uso. Não retiveram qualquer propriedade miraculosa em si mesmos. Semelhantemente, os lenços e aventais de Paulo tiveram um uso especial somente em Éfeso, e provavelmente somente durante um determinado período, ao longo dos três anos que o apóstolo passou ali. Em contraste, as igrejas da libertação ungem e abençoam objetos e atribuem a eles efeitos que permanecem muito tempo após a cerimônia. É algo bem diferente do uso ocasional feito pelos profetas e apóstolos.

4. Os objetos estavam ligados à pessoa dos homens de Deus - Alguns dos objetos usados eram coisas pessoais dos homens de Deus, como a capa de Elias, o bordão de Eliseu, as vestes de Jesus, os lenços e aventais de Paulo e, num certo sentido, a sombra de Pedro. Eles só foram empregados por isso. O alvo era mostrar o extraordinário poder de Deus sobre tais homens. Quando refletimos no fato de que somente coisas pessoais dos profetas, do Senhor Jesus e dos apóstolos foram usadas, perguntamo-nos se nossos objetos pessoais teriam o mesmo poder. A resposta humilde deve ser “não”. Os profetas, o Senhor e os apóstolos foram pessoas especiais e pertenceram a uma época especial e única dentro da história da revelação. A suspeita de que nossos objetos pessoais são impotentes para realizar milagres fica ainda mais fortalecida quando não descobrimos nas Escrituras qualquer exemplo de coisas dos crentes comuns sendo usadas com esse fim.(4)

5. Nenhum dos objetos empregados foi ungido ou abençoado - Essa é uma diferença fundamental. Nas igrejas de libertação, os objetos são ungidos, abençoados, fluidificados e consagrados através da oração e da imposição de mãos dos pastores e obreiros, depois do que, passam supostamente a ter poderes especiais. No entanto, em nenhum dos casos mencionados nas Escrituras, os objetos empregados nos milagres passaram, antes, por uma cerimônia de consagração. A Bíblia desconhece totalmente a “unção” de coisas com o fim de serem empregadas em atos miraculosos, para atrair as bênção de Deus, ou ainda, para expelir demônios e doenças. É verdade que no Antigo Testamento alguns objetos, utensílios e mobília do tabernáculo, e depois, do templo, foram ungidos com sangue e óleo. Mas o propósito não era investir essas coisas de poderes especiais, e sim separá-las do seu uso comum para o uso sagrado nos rituais de sacrifício. Eliseu não ungiu nem consagrou, pela oração, o sal, a farinha e o pedaço de árvore que usou para operar milagres. Nem Isaías ungiu a pasta de figo para curar a úlcera de Ezequias. Nem mesmo a serpente de bronze passou por uma consagração, antes de ser erigida diante do povo envenenado pelas serpentes. Os lenços e aventais de Paulo não passaram pela imposição de mãos do apóstolo antes de serem levados aos doentes e endemoninhados. O que dava “poder” àqueles objetos era o fato de que pertenciam, ou foram manipulados, por pessoas sobre quem o poder de Deus repousava de forma extraordinária.

A conclusão inescapável é que não existe qualquer fundamento bíblico para que, hoje, unjamos e abençoemos objetos com o propósito de transmitir, através deles, uma medida do poder de Deus. Mais uma vez repito: creio que Deus faz milagres hoje. Creio que ele poderia usar o que quisesse para fazer isso. Entretanto, creio também que Deus nos revela em Sua Palavra os seus caminhos e seus meios de agir, para que não sejamos iludidos pelo erro religioso. E se vamos usar as Escrituras como regra da nossa prática, bem como critério para discernirmos a verdade do erro, acabaremos por rejeitar a idéia de que, pela oração e unção, determinados objetos repassam uma bênção de Deus aos seus possuidores.

* Objetos que Trazem Maldição

Tratemos agora de outro ensino ainda relacionado com o uso de objetos no campo religioso. Segundo adeptos do movimento de “batalha espiritual”, objetos utilizados em qualquer forma de magia, ocultismo ou religião idólatra ficam impregnados de emanações malignas, como se demônios de fato residissem nos mesmos. Para usar a linguagem de alguns do movimento, esses objetos estariam “demonizados”. Esse conceito é similar ao praticado na magia. Objetos magicamente “carregados” são considerados como transmissores do poder da mágica que representam, e afetam aos que os tocam.

Portanto, caso um cristão venha a ter em sua casa, escritório ou local de trabalho, qualquer um desses objetos, estará dando ocasião para que os demônios (as verdadeiras entidades espirituais associadas com esses objetos) prejudiquem sua vida material e espiritual. A idéia é que objetos como ídolos, imagens, esculturas, quadros e fotos se tornam pontos de contato para os demônios, que sempre estão procurando materializar-se através de alguma coisa e assim atormentar os homens.(5) Admitir tais coisas dentro de casa, seria convidar os demônios a entrar e nos atormentar. Nas palavra de Jorge Linhares,

Não basta que abençoemos os nossos bens, nossos pertences. precisamos verificar se não temos permitido adentrar em nosso lar objetos que são por natureza amaldiçoados - objetos que temos de lançar fora e de preferência, queimar ou destruir.(6)

Uma outra coisa que segundo o pensamento da “batalha espiritual” permite a entrada de demônios na vida da pessoa é o ingerir comidas “trabalhadas” em centros de umbanda. Num capítulo entitulado “Como os demônios se apoderam das pessoas”, do livro Orixás, Caboclos & Guias, Edir Macedo inclui comidas sacrificadas a ídolos como um desses meios. Ele conta o caso de um homem que ingeriu uma comida “trabalhada” e foi atacado por um espírito maligno que o fazia sofrer do estômago. Ele conclui dizendo, “Todas as pessoas que se alimentam dos pratos vendidos pelas famosas ‘baianas’ estão sujeitas, mais cedo ou mais tarde a sofrer do estômago.”(7)

Mark Bubeck, que ficou conhecido no Brasil por seu livro O Adversário, escreveu recentemente um outro livro sobre como podemos criar nossos filhos em meio aos constantes ataques que os demônios fazem ao nosso lar. Ao fim do livro, Bubeck adicionou um apêndice, contendo questionários cujas perguntas procuram levar os leitores a descobrir as portas pelas quais têm permitido aos demônios entrarem no lar e atacar os filhos. Uma das portas é a presença em casa de objetos amaldiçoados, como amuletos, fetiches e talismãs, livros sobre ocultismo, bruxaria, astrologia, mágica, adivinhação, e utensílios ou objetos usados em templos pagãos, rituais de feitiçaria, ou ainda na prática da adivinhação, mágica ou espiritismo. A sugestão de Bubeck é que a presença dessas coisas no lar permite aos demônios que penetrem na casa e atormentem os filhos.(8)

* Uso de objetos no paganismo

A lista de Bubeck é bem modesta. Os objetos considerados “amaldiçoados” por muitos cristãos são via de regra aqueles usados nas religiões afro-brasileiras, nas práticas ocultas e no catolicismo popular. Nas religiões populares que empregam artes mágicas e práticas ocultas, objetos religiosos desempenham importante papel no culto e na fé dos participantes. São usados, por exemplo, em despachos e trabalhos feitos pelos pais-de-santos da umbanda. Objetos como o sal grosso, a rosa ungida, a água fluidificada, fitas e pulseiras especiais (como a do chamado “Senhor” do Bonfim) e ramos de arruda são bastante populares. Ainda podemos incluir talismãs e amuletos do tipo “pé-de-coelho”. Para não mencionar ainda os fetiches usados na magia e no candomblé, as relíquias e imagens do catolicismo popular.(9) Na feitiçaria, velas coloridas são usadas para evocar vibrações energéticas das cores e promover transformações pessoais. Amuletos são empregados na proteção contra maus espíritos. Ainda são usados óleos especiais, incensos, cremes, pó, cristais, pirâmides, pêndulos, pulseiras, brincos e pendentes, colares contendo saquinhos com fórmulas mágicas e encantamentos, e muito mais.(10) As gárgulas (imagens de animais grotescos) são freqüentemente associadas com demônios.(11) Esses objetos são ungidos, benzidos, abençoados, purificados, fluidificados com o objetivo de passar ao seu possuidor alguma espécie de poder ou proteção. Ou ainda, são usados em rituais de magia associados com encantamentos, feitiços, despachos e trabalhos espirituais em geral. Em alguns casos, esses objetos são associados com os nomes das entidades espirituais aos quais são dedicados.(12)

* Maldições trazidas por objetos consagrados a demônios

Como dissemos acima, para os aderentes do movimento de batalha espiritual a ingestão, a posse e mesmo o contato com coisas que foram oferecidas e consagradas aos demônios trazem maldição aos crentes. Um caso sempre mencionado é o do missionário que, ao regressar ao seu país de origem, trouxe da tribo africana onde trabalhava um pequeno fetiche (objeto usado nos rituais religiosos) como recordação. O missionário, evidentemente, não tinha qualquer atitude religiosa para com o objeto, como os africanos; trouxe-o apenas como lembrança, um souvenir. O fetiche foi colocado na estante da sala, em sua casa. Não muito tempo depois, sua filha ficou doente. Sua situação financeira foi de mal a pior. Havia uma “opressão espiritual” no ar, dentro da casa. Nada mais dava certo. Vozes e ruídos eram por vezes ouvidos à noite. Um dia, uma profetiza de uma igreja carismática veio visitar a família. Dirigiu-se imediatamente à estante onde estava o fetiche. Sem hesitar, declarou que a casa estava amaldiçoada por causa do objeto. Era preciso quebrar a maldição. Os passos necessários seriam: confissão do pecado de trazer para casa um objeto amaldiçoado, a quebra do mesmo e a total renúncia dos laços com os espíritos malignos. Esses laços haviam sido estabelecidos, mesmo inconscientemente, no momento que o missionário trouxe o objeto para dentro de casa. Os demônios adquiriram a autoridade de invadir a casa e oprimir seus moradores.

Timothy Warner conta a história de uma estudante crente, por natureza uma pessoa bem ativa e enérgica, que começou a ficar mais e mais deprimida, tendo dificuldade em dormir e estudar, durante seus estudos de francês, em preparação para o trabalho missionário na África. Um missionário descobriu, após examinar o dormitório onde ela morava, que o ocupante anterior havia escondido no mesmo diversos objetos ocultistas. Warner então explica: “alguns dos demônios associados com os objetos haviam se apegado ao quarto e à mobília”. O missionário orou determinando aos demônios que fossem embora, e a moça pode voltar a dormir normalmente.(13)

O pressuposto por detrás desse tipo de relato é que esses objetos abrem a porta para os demônios, visto que foram consagrados a eles nos rituais de magia e ocultismo, e mesmo no catolicismo. O fato de que uma pessoa é crente não evitará que seja oprimida pelos espíritos associados a objetos deste tipo.

Existem algumas dificuldades com esse conceito. No que se segue, vamos explicar algumas delas.

1) O conceito da habitação de demônios em objetos físicos. Warner conta a história de uma família de missionários nas Filipinas cujo filho era assediado por um demônio que morava numa árvore do jardim da casa onde moravam.(14) O conceito de entidades espirituais morando em árvores remonta à mitologia grega e ao paganismo em geral. As Escrituras desconhecem esse conceito e falam dos demônios como atuando especificamente em seres vivos, humanos ou animais. Entretanto, é comum lermos na literatura do movimento de “batalha espiritual” que espíritos malignos podem habitar em coisas como árvores, imagens, objetos, casas, etc.

Às vezes Apocalipse 18.2 é citado como prova de que demônios podem morar em lugares amaldiçoados:

Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável.

Aqui temos o anúncio da queda de Babilônia feito por um anjo de Deus. Notemos, porém, o seguinte, antes de concluirmos que o texto prova que demônios moram em ruínas! (1) A passagem é evidentemente alegórica. Nos dias de João, Babilônia já não mais existia. (2) João está citando Jeremias 50.39 e Isaías 13.21. Esses dois profetas referem-se à queda e destruição da cidade de Babilônia que existiu em seus dias. A desolação que lhe haveria de sobrevir, como resultado do castigo divino, ia ser tão grande, que a grande cidade, outrora populosa e opulenta, iria se tornar em um grande montão de ruínas. Com o propósito de enfatizar a desolação, os profetas descrevem as ruínas como sendo habitadas por feras e animais do deserto: chacais, avestruzes, corujas e hienas. A Septuaginta, ao traduzir o texto hebraico de Isaías 13.21, traduziu “bodes” por “demônios”.(15) O apóstolo João, ao citar essas passagens e aplicá-las figuradamente à Babilônia espiritual, o reino das trevas que será destruído por Cristo, acrescenta, além dos animais mencionados pelos profetas, os demônios e espíritos imundos, seguindo a tradução da Septuaginta (Ap 18.2). (3) Evidentemente, a passagem não está dizendo que essas entidades habitam em ruínas de cidades. Seu sentido óbvio é que Deus entrega a humanidade ímpia e endurecida que o rejeita à desolação espiritual e aos demônios. (4) Lembremos ainda que o Senhor Jesus ensinou que os espíritos imundos não encontram repouso em lugares áridos (Mt 12.43-45). A conclusão é que não existe argumentos bíblicos suficientes para provar que espíritos imundos moram e habitam em coisas como objetos, casas, árvores, etc.

2) O estabelecimento de um pacto com esses demônios pela posse de objetos a eles consagrados. Nenhum adepto do movimento de “batalha espiritual” estaria disposto a admitir que um incrédulo entra em algum tipo de pacto ou concerto com Deus simplesmente por ter uma Bíblia em casa, ou mesmo por ter participado inadvertidamente da Ceia do Senhor numa igreja evangélica. Entretanto, está pronto a afirmar que cristãos verdadeiros podem ser atacados, amaldiçoados e demonizados se tiverem em casa livros sobre ocultismo ou objetos ocultistas, para com os quais não tenha nenhuma atitude religiosa. É óbvio que a simples posse desses objetos não nos expõe a ataques satânicos da mesma forma que a posse de uma Bíblia não expõe um incrédulo às investidas do Espírito Santo, a não ser que abra suas páginas e comece a ler, com seu coração aberto e desejoso de aprender as coisas de Deus.

3) Uma outra dificuldade é o conceito de que crentes, que nem estão conscientes de que esses objetos foram usados em rituais ocultistas, possam ser oprimidos pelos demônios associados com esses objetos. Não é suficiente escutarmos os relatos e as experiências, como a do missionário acima. Como já insistimos em quase cada capítulo desse livro, por mais sérias e válidas que sejam, experiências não podem servir como autoridade final nessa questões. É preciso examinar as Escrituras, seguindo as regras simples de interpretação, que procuram deixar o texto sagrado falar livremente. E o que encontramos nelas pode ser resumido nas palavras de Balaão, falando pelo Espírito de Deus: “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel” (Nm 23.23).

* Coisas amaldiçoadas na Bíblia

É preciso reconhecer que, para alguns defensores da “batalha espiritual”, existe suficiente apoio na Bíblia para defender o conceito de maldição através de objetos. Examinemos os dois principais argumentos.

1) Passagens que condenam o uso de amuletos. É defendido que os pendentes de ouro que as mulheres israelitas traziam nas orelhas, ao sair do Egito, e com os quais se fez o bezerro de ouro, eram amuletos (Ex 32.2-4), bem como as arrecadas (brincos) que Jacó arrancou das orelhas da sua família, junto com os ídolos (Gn 35.1-4).(16) O uso de cordões ou cadeias com pendentes é chamado pelo profeta Oséias de “adultério entre os peitos” (Os 2.2). A atitude das Escrituras em relação a esses objetos é de condenação e rejeição. O profeta Isaías, ao condenar a vaidade do vestuário das mulheres israelitas, faz referência às luetas que elas traziam em seu pescoço (Is 3.18). Eram cordões ou cadeias de ouro com o símbolo da lua crescente, usados para proteger contra maus espíritos. Esse era um costume pagão. Eles usavam amuletos assim até mesmo no pescoço de camelos (Jz 8.21,26).

É preciso notar, entretanto, que condena-se não tanto o uso em si desses objetos, mas a atitude religiosa que os israelitas tinham para com eles. Eles o usavam conscientemente como amuletos protetores, como fetiches mágicos, como se fossem encantamentos contra maus espíritos. Foi contra essa prática de magia e ocultismo que os profetas falaram. Evidentemente, ter objetos desse tipo em casa pode não ser conveniente ao cristãos por vários motivos (veja a conclusão desse capítulo). Entretanto, se eles não têm qualquer sentido, significado ou relação religiosos, o cristão não se enquadra na condenação emitida pelos profetas.

2) Passagens que condenam imagens. Existem inúmeras passagens nas Escrituras que condenam a idolatria, isso é, o ato de prestar culto à imagens bem como às realidades espirituais que elas representam. Um fator que contribui significativamente para essa condenação é a relação entre a idolatria e os demônios. Nos tempos antigos, mágica, adivinhação, feitiçaria, bruxaria e necromancia (invocação de mortos) estavam tão intimamente ligados à idolatria, que era quase impossível separar uma coisa da outra. Moisés identifica os deuses pagãos com demônios (Dt 32.17; cf. Sl 106:36-37). O mesmo faz Paulo (1 Co 10.19-20) e o apóstolo João (Ap 9.20). Acredito que o mesmo é verdade ainda hoje. Por detrás da moderna idolatria estão os antigos demônios.

Entretanto, mais uma vez é preciso observar que as Escrituras condenam propriamente o confeccionar e possuir imagens de entidades pagãs com propósito religioso:

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos (Ex 20.3-6).

Os puritanos entenderam esse mandamento como determinando que nos livrássemos, se possível, de todos os monumentos à idolatria, e proibindo o culto a imagens representativas de Deus ou de falsos deuses e o possuir supersticiosamente artigos ou objetos.(17) A preocupação sempre é contra a idolatria em si. O mandamento contra a idolatria não dever ser entendido como proibindo esculturas, representações, quadros e outros objetos artísticos em geral. O fato de que o culto a Deus deve ser em Espírito (Jo 4.24) não quer dizer, nem mesmo, que Deus proíba a confecção de objetos representativos de realidades espirituais. Ele próprio determinou que os israelitas fizessem imagens de ouro de querubins, que deveriam ser colocadas sobre a tampa da arca, o propiciatório (Ex 25.18-20). Noutra ocasião, mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze (Nm 21.8-9). Ela foi mais tarde destruída somente por que os israelitas passaram a adorá-la, provavelmente como uma relíquia provinda dos tempos de Moisés (2 Re 18.4). O motivo pelo qual o Senhor determinou que os israelitas destruíssem totalmente as imagens dos deuses cananitas, ao se apossarem da terra, foram evitar que os israelitas fossem atraídos à idolatria (Dt 7.1-5) e evitar a cobiça para com o ouro e a prata que revestiam essas imagens. Por esses motivos, não deveriam meter esses ídolos dentro de suas casas, pois eram amaldiçoados por Deus e representariam uma tentação para praticarem a idolatria (Dt 7.25-26). Mais uma vez percebemos que é o perigo da idolatria que o Senhor queria prevenir. As imagens em si mesmo nada eram.

Preciso reiterar minha convicção de que os cristãos deveriam evitar possuir qualquer objeto relacionado com a idolatria e práticas ocultas. Entretanto, acredito que isso deve ser feito pelas razões corretas e não por mera superstição e crendice.

Atos 19 e a quebra de maldições de objetos: Talvez a passagem mais citada para justificar a quebra de maldições desses objetos seja Atos 19.18-19:

Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta mil denários.

As “artes mágicas” no mundo antigo incluíam a adivinhação, o exorcismo, o uso de fórmulas secretas, a conjuração e a invocação dos mortos, pactos com entidades espirituais, encantamentos e rituais com o objetivo de ganhar o favor dos espíritos. Essas coisas eram usadas tanto para atingir e ferir inimigos quanto para curar doentes. Elas são bastante populares ainda hoje.

Havia muitos magos e bruxos no mundo do século I, na época de Jesus e dos apóstolos. Um exemplo é Simão Mago, que iludia o povo de Samaria com artes mágicas (At 9.9). A cidade de Éfeso, por sua vez, era um conhecido centro dessas artes. Ali, no início do reinado de Nero, um homem chamado Apolônio Tianeo abriu uma escola e ensinava artes mágicas e coisas do gênero. Taciano, em sua obra Contra Graecos, menciona que a deusa Diana dos efésios era considerada como sendo praticante de magia.

Lemos em Atos 19 que os ex-adeptos da magia em Éfeso que haviam se convertido ao cristianismo pela pregação de Paulo, queimaram seus livros publicamente. Esses “livros” eram obras onde se ensinava a prática dessas artes. Continham encantamentos, símbolos secretos e mágicos, passos para a invocação de mortos e métodos para esconjurar demônios. Provavelmente continham tabelas e fórmulas essenciais para a prática da astrologia. Os “Papiros Mágicos”, encontrados no Egito na década de 50 desse século, continham pedaços de pergaminhos com símbolos e fórmulas mágicas chamados “cartas de Éfeso”, que eram usados como amuletos ou talismãs.(18)

É alegado por alguns da “batalha espiritual” que a queima dos livros de magia em Éfeso foi necessária pois a posse de tais livros continuaria a dar validade aos pactos feitos pelos efésios com entidades malignas e a dar autoridade a essas entidades sobre suas vidas, mesmo que eles agora se tornaram cristãos. Queimar os livros fazia parte da quebra das maldições que pesavam sobre eles por terem praticado artes mágicas antes da sua conversão. Na cerimônia da queima dos livros, eles renunciaram publicamente a todos esses compromissos e pactos que fizeram com os espíritos malignos.

Evidentemente, a queima dos livros de magia representou o rompimento oficial e público dos efésios crentes com seu passado de ocultismo. Entretanto, nada há no texto que apoie a idéia de que o evento foi uma espécie de cerimônia de quebra de maldições. A queima dos livros foi o resultado da consciência que os efésios agora tinham de que tais artes mágicas era iniquidade diante de Deus, e que os livros que ensinavam essa coisas eram perniciosos à humanidade e que, por mais caros que fossem (cerca de cinqüenta mil moedas de prata), deveriam ser destruídos para não causar mais danos a outros. O verso 19 que narra a queima dos livros deve ser entendido à luz do verso 18, onde se diz que os efésios vieram confessar seus pecados e revelar as suas obras más. A queima dos livros foi uma amostra de seu genuíno arrependimento.

Comentando nessa passagem, John Gill, um estudioso puritano, diz o seguinte:

Eles queimaram seus antigos livros de mágica para mostrar o quanto agora os detestavam. Também, para mostrar a genuinidade de seu arrependimento pelos pecados cometidos nessa área, para evitar que esses livros não se tornassem uma armadilha para eles no futuro e para que não fossem usados por outros.(19)

Os livros, portanto, não foram queimados porque possuíam qualquer poder maléfico intrínseco em si mesmos. Os motivos mencionados por Gill para a queima estão em harmonia com o ensino das Escrituras em geral, com o bom senso e com o que tem sido a prática normal da Igreja na história, além de ser a interpretação mais natural e óbvia da passagem.(20)

Existe ainda um outro motivo para a queima dos livros. Uma parte essencial da prática de artes mágicas daquela época era o exorcismo, a expulsão de espíritos malignos. Acreditava-se (como também se acredita hoje em alguns círculos protestantes) que todas as doenças - particularmente as mentais - eram causadas por espíritos maus que entravam nos homens. Grande parte do trabalho dos exorcistas era tentar curar essas doenças pela expulsão dos espíritos maus que as infligiam. Nos seus livros mágicos haviam fórmulas especiais para esconjurar esses espíritos.

Quando Paulo chegou em Éfeso, duas coisas aconteceram que vieram contribuir para a queima dos livros: (1) Ele curou as enfermidades e expulsou demônios usando apenas o nome de Jesus (At 19.11-12), em contraste com os rituais elaborados e complicados dos exorcistas da época, como se encontravam nos livros; (2) quando alguns exorcistas tentaram usar o nome de Jesus e de Paulo para expelir um demônio de um homem, fracassaram redondamente. O próprio demônio atestou a autoridade que havia no nome de Jesus (At 19.13-16).(21) É possível que alguns dos efésios que haviam se convertido ainda mantinham algum tipo de contato com artes mágicas. O episódio dos exorcistas acabou por convencê-los. Ficou evidente a todos que a mágica ensinada nos livros não passava de fórmulas vazias e inúteis. Como escreve Marshall,

A demonstração da futilidade das tentativas pagãs de dominarem os espíritos maus levou muitos dos convertidos efésios de Paulo a reconhecerem que a magia pagã, com a qual ainda tinham contatos, era tão inútil quanto pecaminosa. Como conseqüência, trouxeram os vários manuais de magia e as compilações de invocações e fórmulas que ainda tinham, e fizeram com eles um rompimento final.(22)

O verdadeiro poder contra Satanás estava apenas no nome de Jesus. A queima dos livros, portanto, foi um testemunho do poder inigualável de Jesus Cristo sobre as obras das trevas. Somente ele era o Senhor. Quanto a isso, os efésios cristãos não tinham mais qualquer dúvida.

* O ensino de Paulo sobre coisas sacrificadas a demônios
Examinemos, agora, 1 Coríntios 8-10, a passagem da Bíblia que aborda de forma mais direta e clara a questão que estamos discutindo. Nesses capítulos, o apóstolo Paulo trata da atitude dos cristãos para com a carne de animais sacrificados como oferendas aos deuses pagãos. A questão que Paulo tratou nessa passagem era bem complexa. Os cristãos em Corinto (bem como nas demais cidades do mundo greco-romano) sempre corriam o risco de comer esse tipo de carne. O sacrifício de animais e o consumo da sua carne fazia parte do ritual religioso nos templos pagãos da época. Corinto não era exceção.

Modernamente, podemos nos referir ao caso das comidas “trabalhadas” nos terreiros de umbanda. De acordo com as crenças do candomblé, umbanda e quimbanda, os orixás exigem comidas variadas, que devem ser preparadas de acordo com rituais apropriados. Por exemplo, Exú gosta de cebola e mel entregues no mato com velas acesas e aguardente. Ogum gosta de feijoada, xinxim, acarajé e milho branco. Oxóssi, de peixe de escamas, arroz, feijão e dendê.(23) Essas comidas são feitas de acordo com as indicações dos demônios e a eles oferecidas. Para muitos cristãos, é uma questão aguda se algum mal vai lhes ocorrer se acabarem por ingerir uma comida que foi “trabalhada”. Os coríntios estavam perturbados por um problema similar. Eles escreveram uma carta a Paulo com várias perguntas, entre elas, se era lícito comer carne de animais que haviam sido consagrados aos deuses pagãos.(24) Os coríntios tinham em mente três situações:

1. Era lícito participar de um festival religioso num templo pagão e comer a carne dos animais sacrificados aos deuses? Na antigüidade, o sacrifício de animais aos deuses fazia parte da vida pessoal, familiar e social. O sacrifício ocorria nos templos e a carne do animal sacrificado era dividida em três partes. Uma parte, geralmente simbólica (podendo ser até uma mecha dos pelos!), era queimada no altar em homenagem aos deuses. A segunda parte, incluindo costelas e músculos, ia para o sacerdote. A terceira parte ficava com o ofertante, e com ela, oferecia um banquete, geralmente em casamentos. Muitas vezes, essas festas ocorriam no templo, no qual o sacrifício fora feito.(25) Os crentes de Corinto certamente mantinham relacionamentos com amigos não-crentes, e sempre havia a possibilidade de serem convidados a participar de uma destas festas no templo, onde havia muita carne e bebida. Alguns daqueles cristãos não tinham quaisquer escrúpulos de consciência em participar e comer carne dos ídolos no templo dos ídolos, uma atitude que estava provocando os de consciência mais fraca.

2. Era lícito comer carne comprada no mercado público? A carne ali comprada poderia ser de animais sacrificados aos deuses, cujo excedente dos altares havia sido repassado pelos sacerdotes aos açougueiros da cidade. Devido à enorme quantidade de animais sacrificados, uma parte deles acabava no mercado público, onde eram vendidos como carne boa e barata.

3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra? Como na situação anterior, um crente poderia ser convidado por um amigo pagão para comer um churrasco em sua casa. A carne provavelmente seria de um animal que o amigo havia primeiro consagrado ao seu deus, lá no templo. Um papiro grego muito antigo contém um convite para uma dessas festas, nos seguintes termos: “Antônio, filho de Ptolomeu, convida-o para cear com ele à mesa de nosso senhor Serápis.”(26) Quem quer que tenha sido o convidado, ele sabia que ao sentar-se à mesa de Antônio, estaria comendo carne de um animal que havia sido sacrificado ao deus Serápis.

A questão aguda era se um crente poderia comer carne em Corinto, correndo assim o risco de contaminar-se. William Barclay, um autor bastante conhecido e citado, sugere que o problema era a crença, muito difundida na antigüidade, de que os demônios estavam sempre procurando uma brecha para entrar nos homens, para destruir seus corpos e mentes. Uma das maneiras pela qual faziam isso era através da comida. Tais espíritos se alojavam na comida e quando a pessoa a engolia, os demônios entravam nela. Por esse motivo, diz Barclay, as pessoas consagravam os alimentos - especialmente a carne - a algum deus bom. Acreditava-se que a presença de um deus bom na carne formava uma barreira contra os maus espíritos.(27)

O assunto dos sacrifícios de animais aos deuses é bem complexo, e não poucos estudiosos discordariam de Barclay. Essa não parece ser a razão primordial pela qual os pagãos consagravam comida aos seus deuses. Sacrifícios eram praticados nas religiões de quase todas culturas antigas, e no geral, visavam honrar uma divindade, apaziguá-la ou santificar a oferta. Em algumas destas culturas, os sacrifícios estavam relacionados com o culto aos ancestrais, alimentar os deuses e mesmo “comer os deuses”.(28) Paulo, ao discutir o assunto, em momento algum sugere que haveria o risco de demônios penetrarem mesmo naqueles que comessem a carne consagrada aos demônios nos próprios templos dos deuses pagãos. A questão que incomodava os coríntios não era se estariam comendo demônios, mas se não estariam participando direta ou indiretamente do culto ao ídolo. Note ainda que quem introduz o conceito de que os demônios estão por detrás da idolatria é Paulo. Provavelmente os coríntios nem estavam pensando nesses termos. A explicação de Barclay, portanto, é menos do que convincente.(29)

Os crentes de Corinto estavam divididos quanto ao assunto. Um grupo deles estava passando por grande aflição. Eram ex-freqüentadores dos templos, recém convertidos ao Evangelho. Por vezes, acabavam caindo no velho costume de comer carne, encorajados pelo exemplo dos que achavam que não havia nada de errado com isso. Como resultado, suas consciências os acusavam: eles haviam acabado de consumir carne espiritualmente contaminada, consagrada aos demônios em um templo pagão. Paulo, no tratamento que faz do assunto, considera-os como “fracos”, pois suas consciências eram “fracas” (1 Co 8.7,9-12). O grupo contrário, a quem Paulo chama de “dotados de saber” (1 Co 8.10), tinha já plena consciência de que os ídolos dos templos pagãos nada eram nesse mundo, e que os animais a eles ofertados, na verdade, continuavam a ser de Deus, o criador e Senhor de todas as coisas. Assim, sentiam-se livres para comer carne, até mesmo nos festivais pagãos nos templos. Os “fracos”, estimulados por esse exemplo, tentavam usar da mesma liberdade, mas com resultados desastrosos - suas consciências não eram fortes o suficiente para permitir que comessem carne livremente.

O problema parece que girava em torno de duas questões. Primeira, a relação entre os animais e os deuses, diante de cujas imagens os animais eram consagrados, oferecidos e sacrificados. A carne desses animais continuava a “pertencer” aos deuses após o ritual no templo, quando estava pendurada no açougue público para ser vendida? Quem comesse dessa carne estaria, mesmo de forma inconsciente, fazendo um pacto com os deuses? Segunda, comer essa carne não implicaria numa espécie de participação à distância dos crentes na adoração pagã e no culto aos deuses? Não deveríamos evitar a todo custo aquilo que tem relação com os cultos idólatras?

As respostas de Paulo são surpreendentes. O apóstolo concorda com os “fortes” quanto ao conhecimento de que Deus é o Senhor de tudo e que não há outros deuses ou senhores (1 Co 8.4-6). Mas condena a falta de amor dos “fortes” para com os “fracos” (1 Co 8.9-13). Deveriam limitar sua liberdade pela consideração à consciência dos outros. Após dar o exemplo de como abriu mão dos seus direitos como apóstolo de receber sustento por amor do Evangelho (1 Coríntios 9), e após alertar os “fortes” contra a arrogância, usando o exemplo de Israel no deserto (1 Co 10.1-15), Paulo responde às três principais indagações dos Coríntios já mencionadas acima.

O fato de que Paulo não invoca aqui a decisão do concílio de Jerusalém (Atos 15) para resolver o assunto de vez tem intrigado os estudiosos. Conforme lemos no livro de Atos, o concílio havia se reunido para tratar das condições sob as quais os não-judeus poderiam ser salvos e recebidos na Igreja. A polêmica havia sido causada por alguns judeus cristãos da Judéia que foram até as igrejas gentílicas forçar os gentios a se circuncidarem, e a guardar as leis de Moisés (naquela época, as mais importantes eram as leis dietárias e o calendário religioso). Paulo e Barnabé resistiram e houve uma grande discussão. O assunto foi levado aos apóstolos e presbíteros em Jerusalém. Alguns fariseus que haviam crido em Cristo insistiam na circuncisão e nas leis de Moisés para os gentios, mas Paulo, Pedro e Tiago, através de seus testemunhos e do apelo às Escrituras, convenceram o concílio de que os gentios eram salvos pela fé sem as obras da lei (como também os judeus o eram), e que não precisavam se tornar judeus para poder pertencer à Igreja de Cristo. O concílio, entretanto, em sua decisão, resolveu incluir algumas condições éticas, entre elas, a de os gentios se absterem das coisas sacrificadas aos ídolos (At 15.29).

O concílio havia acontecido uns poucos antes de Paulo escrever 1 Coríntios. O apóstolo estava perfeitamente consciente do conteúdo da sua decisão. A pergunta é, por que não invocou aquela decisão para acabar de vez com o problema em Corinto? Algumas respostas tem sido dadas. Peter Wagner, por exemplo, sugere que Paulo não havia ficado satisfeito com essa decisão, considerando-a inadequada e superficial. Para Wagner, a decisão do concílio havia sido equivocada por tratar o comer carne sacrificada aos ídolos como algo imoral, quando na verdade era algo neutro.(30) Entretanto, a melhor solução tem sido observar que as condições éticas requeridas pelo concílio eram para ser observadas num ambiente onde houvesse judeus e gentios. Eram regras a ser seguidas pelos gentios cristãos numa igreja onde houvesse judeus cristãos. Elas não eram uma lei moral geral e válida em todas as circunstâncias, mas uma orientação para quando a abstinência se fizesse necessária para preservar a unidade, conforme sugere Calvino em seu comentário em Atos 15.

A situação de Corinto era diferente. O problema lá não era o mesmo tratado no concílio de Jerusalém. O problema não era os escrúpulos de judeus cristãos ofendidos pela atitude liberal de crentes gentios quanto à comida oferecida aos ídolos. Portanto, a solução de Jerusalém não servia para Corinto. É provavelmente por esse motivo que o apóstolo não invoca o decreto de Jerusalém.(31) Antes, procura responder às questões que preocupavam os coríntios de acordo com o princípio fundamental de que só há um Deus vivo e verdadeiro, o qual fez todas as coisas; que o ídolo nada é nesse mundo; e que fora do ambiente do culto pagão, somos livres para comer até mesmo coisas que ali foram sacrificadas.

1. A primeira pergunta dos coríntios havia sido: era lícito participar de um festival religioso num templo pagão e ali comer a carne dos animais sacrificados aos deuses? Não, responde Paulo. Isso significaria participar diretamente no culto aos demônios onde o animal foi sacrificado (1 Co 10.16-24). Paulo havia dito que os deuses dos pagãos eram imaginários (1 Co 10.19). Por outro lado, ele afirma que aquilo que é sacrificado nos altares pagãos é oferecido, na verdade, aos demônios e não a Deus (10.20). Paulo não está dizendo que os gentios conscientemente ofereciam seus sacrifícios aos demônios. Obviamente, eles pensavam que estavam servindo aos deuses, e nunca a espíritos malignos e impuros. Entretanto, ao fim das contas, seu culto era culto aos demônios. (32) Paulo está aqui refletindo o ensino bíblico do Antigo Testamento quanto ao culto dos gentios:

Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus… (Dt 32.17).
…pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios (Sl 106.37).

O princípio fundamental é que o homem não regenerado, ao quebrar as leis de Deus, mesmo não tendo a intenção de servir a Satanás, acaba obedecendo ao adversário de Deus e fazendo sua vontade. Satanás é o príncipe desse mundo. Portanto, cada pecado é um tributo em sua honra. Ao recusar-se a adorar ao único Deus verdadeiro (cf. Rm 1.18-25), o homem acaba por curvar-se diante de Satanás e de seus anjos.(33) Para Paulo, participar nos festivais pagãos acabava por ser um culto aos demônios. Por esse motivo, responde que um cristão não deveria comer carne no templo do ídolo. Isso eqüivaleria a participar da mesa dos demônios, o que provocaria ciúmes e zelo da parte de Deus (1 Co 10.21-22). Paulo deseja deixar claro para os coríntios “fortes”, que não tinham qualquer intenção de manter comunhão com os demônios, que era a atitude deles em participar nos festivais do templo que contava ao final. Era a força do ato em si que acabaria por estabelecer comunhão com os demônios.(34)

2. Era lícito comer carne comprada no mercado público? Sim, responde Paulo. Compre e coma, sem nada perguntar (1 Co 10.25). A carne já não está no ambiente de culto pagão. Não mantém nenhuma relação especial com os demônios, depois que saiu de lá. Está “limpa” e pode ser consumida.

3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra? Sim e não, responde Paulo. Sim, caso não haja, entre os convidados, algum crente “fraco” que alerte sobre a procedência da carne (1 Co 10.27). Não, quando isso ocorrer (1 Co 10.28-30).

O ponto que desejo destacar é que para o apóstolo Paulo a carne que havia sido sacrificada aos demônios no templo pagão perdia a “contaminação espiritual” depois que saia do ambiente de culto. Era carne, como qualquer outra. É verdade que ele condenou a atitude dos “fortes” que estavam comendo, no próprio templo, a carne sacrificada aos demônios. Mas isso foi porque comer a carne ali era parte do culto prestado aos demônios, assim como comer o pão e beber o vinho na Ceia é parte de nosso culto a Deus. Uma vez encerrado o culto, o pão é pão e o vinho é vinho. Aliás, continuaram a ser pão e vinho, antes, durante e depois. A mesma coisa ocorre com as carnes de animais oferecidas aos ídolos. E o que é verdade acerca da carne, é também verdade acerca de fetiches, roupas, amuletos, estátuas e objetos consagrados aos deuses pagãos. Como disse Calvino,

Alguma dúvida pode surgir se as criaturas de Deus se tornam impuras ao serem usadas pelos incrédulos em sacrifícios. Paulo nega tal conceito, porque o senhorio e possessão de toda terra permanecem nas mãos de Deus. Mas, pelo seu poder, o Senhor sustenta as coisas que tem em suas mãos, e, por causa disto, ele as santifica. Por isso, tudo que os filhos de Deus usam é limpo, visto que o tomam das mãos de Deus, e de nenhuma outra fonte.(35)

CONCLUSÃO

Ao fim desse capítulo, espero ter dado evidências claras de que não há como justificar hoje a prática no culto cristão de ungir e abençoar objetos, quaisquer que forem os propósitos. Também, que não há como provar biblicamente que objetos usados e consagrados aos demônios nos cultos idólatras e ocultistas têm algum poder especial de “amaldiçoar” os crentes verdadeiros que os tocam, ingerem, usam ou acabam por possui-los fora do contexto de adoração e devoção a essas entidades.

Devemos sempre nos lembrar da diferença fundamental entre o conceito pagão e o conceito cristão quanto ao emprego de “coisas” com sentido religioso. As religiões empregam objetos e utensílios em seus cultos ou práticas como símbolos de realidades espirituais ou portadores de poderes mágicos. O culto cristão, em contraste, é bem mais simples. Ele emprega apenas dois símbolos materiais, a água do batismo e os elementos da Ceia (pão e vinho). A atitude do paganismo para com esses objetos é também diferente da atitude dos evangélicos para com seus símbolos (batismo e Ceia). Enquanto que para os evangélicos a água, o pão e o vinho são símbolos que têm seu valor e sua função apenas no momento da ministração dos sacramentos, na prática da magia, no ocultismo, nas religiões afro-brasileiras e no catolicismo popular, os objetos cúlticos continuam a manter uma relação vital para com as entidades e realidades espirituais aos quais estão associados, mesmo após a sua consagração durante os rituais. Por exemplo, uma rosa que foi ungida continua a emanar forças positivas mesmo após o ritual de consagração. Um amuleto que foi “carregado” de fluidos positivos continuará a emaná-los ad infinitum. Uma comida que foi “trabalhada” por uma mãe de santo num terreiro de umbanda vai afetar quem a comer, fora do terreiro. Para os evangélicos, em contraste, uma vez encerrada a Ceia, o pão é pão comum e o vinho, vinho comum. Na verdade, eles permaneceram sendo vinho e pão comuns durante a celebração da Ceia. Aquele uso especial para o qual foram separados, cessa após a celebração. Nenhum pastor pode, fora do momento da celebração (suponhamos, durante o jantar em casa de amigos), tomar pão e declarar: “Disse Jesus, isso é o meu corpo, comei deles todos”. Água, pão e vinho perdem sua simbologia fora do culto. Para o paganismo, entretanto, a profunda relação entre objetos cúlticos e as realidades e entidades espirituais associadas a eles é permanente.

Portanto, os evangélicos que conhecem a sua Bíblia não são superticiosos quanto a objetos oriundos de outras religiões. Entretanto, acredito que devemos ter bastante cautela quanto a objetos assim. Eu mesmo não guardo em casa ou no ambiente de trabalho nenhuma dessas coisas. Não que tenha receio que elas poderão dar aos demônios, a quem foram oferecidas, algum tipo de poder sobre mim e minha família. Estou seguro e protegido no poder do meu Salvador Jesus Cristo. Mas, pelas seguintes razões, que ofereço como orientação geral quanto ao uso desses objetos:

1) Devemos evitar ter e exibir esses objetos quando os mesmos forem uma tentação real para a idolatria ou ocultismo. Novos convertidos egressos da idolatria e cultos afro-brasileiros poderão ser tentados a retornar às práticas antigas, estimulados pelos símbolos do seu passado religioso. Devemos evitar toda e qualquer possibilidade de sermos tentados nessa área, bem, como evitar sermos causa de tropeço para outros. Foi isso que o apóstolo Paulo recomendou aos “fortes” de Corinto (1 Co 10.31-33).

2) Devemos evitar esses objetos se os mesmos evocam lembranças do nosso passado. Muitos de nós gostariam de esquecer períodos e eventos acontecidos nos tempos de ignorância. Deus nos deu a bênção do esquecimento. Livremo-nos, pois, de tudo que mantém vivas lembranças assim.

3) Devemos evitar esses objetos se os mesmos servirem de estímulo a outros a que façam o mesmo, sem que estejam firmes em suas consciências de que tais objetos, em si, nenhum mal trazem.

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Notas

1 Para um estudo mais detalhado das práticas das igrejas de libertação, veja a análise feita por Leonildo Silveira Campos, ‘Teatro’, ‘Templo’ e ‘Mercado’: Uma análise da organização, rituais, marketing e eficácia comunicativa de um empreendimento neopentecostal - Igreja Universal do Reino de Deus, tese publicada pelo Instituto Metodista de Ensino Superior, 1996. Veja também o relatório da Comissão de Doutrina da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (Igreja Universal do Reino de Deus [São Paulo: CEP, 1998] 58-61).

2 Filácterio era uma pequena caixa de couro, quadrangular, contendo cédulas de pergaminho com passagens da Escritura, que os judeus traziam atadas uma na cabeça e uma no braço esquerdo durante a oração da manhã.

3 Cf. Merril Unger, Biblical Demonology (Wheaton, IL: Scripture Press, 1952; 7a. edição, 1967) 33.

4 Os milagres operados pelo Senhor Jesus eram sinais que apontavam para Sua pessoa e obra (Jo 20.30-21). A promessa de que seus seguidores fariam obras similares e até maiores parece que não incluía curas através de saliva e vestes por parte de todos os crentes. Somente os apóstolos - e mesmo assim, somente Pedro e Paulo - realizaram sinais similares, que por sua vez, eram sinais dos apóstolos, visavam autenticar seu apostolado e estabelecer a mensagem (2 Co 12.12). A passagem de Marcos 16.17-18 (sem considerarmos os problemas textuais) não se refere ao uso de objetos.

5 Essa idéia estranha é defendida por Robson Rodovalho, Por Trás das Bênçãos e Maldições (Brasília: Koinonia, 1995) 32. Ele conta uma história na qual atribui a objetos amaldiçoados o poder de rachar uma ponte do Plano-Piloto em Brasília, mesmo após a quebra de maldições (Ibid., 33).

6 Linhares, Bênção e Maldição, 41.

7 Cf. Edir Macedo, Orixás, Caboclos & Guias: Deuses ou Demônios? (Rio de Janeiro: Universal, 1996; 13a. edição) 48.

8 Mark I. Bubeck, Raising Lambs Among Wolves: How to Protect Your Children from Evil (Chicago: Moody Press, 1997) 237-39.

9 Ver a excelente discussão de Loraine Boettner sobre o uso de objetos no culto católico, incluindo rosários, crucifixos, escapulários, e relíquias que vão desde pedaços da cruz de Cristo, da coroa de espinhos e o Santo Sudário, até roupas e frascos de leite da Virgem Maria!!! (Roman Catholicism [Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1962; 9a. edição de 1980] 284-95).

10 Kurt Koch afirma que alguns mosteiros católicos na Suíça distribuem amuletos ou fetiches ao povo, para protegê-los contra doenças e epidemias. Esses amuletos são geralmente pequenos sacos, contendo, em alguns casos, pedaços de unhas e de casca de ovos. Cf. Kurt Koch, Between Christ and Satan (Michigan: Kregel Publications, 1962) 87.

11 Existem lojas virtuais pela Internet onde toda a parafernálias usada nos rituais mágicos e de bruxaria estão acessíveis e podem ser facilmente adquiridos com cartão de crédito.

12 O conceito pagão por detrás dessas práticas é o de transferência de poderes espirituais para objetos. James Fraser argumenta que essa idéia está presente nas religiões mais antigas e primitivas e consiste basicamente em transferir para objetos ou animais toda dor, culpa e sofrimento, bem como os maus espíritos que os produzem. Fraser dá vários exemplos interessantes, como por exemplo, a prática de povos indianos de curar epilepsia aplicando folhas de determinadas plantas ao paciente e depois lançando-as fora. Acredita-se que a doença passa para as folhas e depois vai embora com elas (James G. Fraser, The Golden Bough: A Study in Magic and Religion [Nova York: Mcmillan, 1925] 538-40)

13 Warner, Spiritual Warfare, 94.

14 Ibid., 94-95.

15 A palavra hebraica para “bodes”, ocorre mais de 40 vezes no Antigo Testamento. Em 4 dessas ocorrências, foi traduzida pela versão Almeida Atualizada (bem como outras versões importantes) como “demônios” ou “sátiros”:

Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se prostituem; isso lhes será por estatuto perpétuo nas suas gerações (Lv 17.7)
Jeroboão constituiu os seus próprios sacerdotes, para os altos, para os sátiros e para os bezerros que fizera (2 Cr 11:15)
Porém, nela, as feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão de corujas; ali habitarão os avestruzes, e os sátiros pularão ali (Is 13.21)
As feras do deserto se encontrarão com as hienas, e os sátiros clamarão uns para os outros; fantasmas ali pousarão e acharão para si lugar de repouso (Is 34.14)

O sátiro era um figura da mitologia grega, uma fera do deserto, metade homem e metade bode. Na antigüidade, era associada ao deus Dionísio. É provável que no período do Antigo Testamento existisse um culto aos sátiros, tendo origem no Egito, e com o qual os israelitas tivessem alguma familiaridade quando ali estiveram como escravos (cf. Js 24.14). Segundo Harrison nos informa, essa seita egípcia floresceu na região oriental do Delta e seu ritual incluía bodes copulando com mulheres adeptas (cf. R. K. Harrison, Levítico: Introdução e Comentário, em Série Cultura Bíblica [São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1980] 165-166). Assim sendo, a tradução de Levítico 17.7 poderia ser simplesmente “Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos sátiros (ou, deus-bode)”. A tradução “demônios” é interpretativa, e pode dar a sugestão de que realmente existiam demônios em forma de bode que assombravam os desertos. O texto hebraico não se refere a demônios, mas ao culto aos sátiros praticado naquela época por alguns israelitas.

16 Warner, Spiritual Warfare, 113.

17 Ver Catecismo Maior, pergunta 109.

18 Cf. G. Adolf Deissmann, Bible Studies (Edimburgo: T. & T. Clark, 1901), 323.

19 John Gill’s Expositor, in loco.

20 Por outro lado, não quero com isso apoiar irrestritamente os movimentos entre os jovens para queimar discos e fitas de rock evangélico, considerados espiritualmente perniciosos por alguns líderes evangélicos (cf. Rick Lawrence, “Gothard slams Christian rock”, em Group, Set. 1990, 41-42). Em geral, sou emocionalmente contra a iconoclastria (destruição de ídolos) por cristãos, como por exemplo, a ocorrida na Escócia, sob os auspícios de John Knox, quando o povo entrou nas igrejas católicas e quebrou todas as imagens, utensílios e objetos ligados ao culto idólatra. Se tivermos, porém, de queimar alguma coisa, a queima de horóscopos poderia fazer algum bem - numa pesquisa de 1992, 11% dos crentes americanos disseram consultar horóscopos e acreditar em astrologia (”Most Americans believe in moral absolutes…”, em National & International Religion Report, 13 de Julho de 1992, p. 8).

21 Segundo Barclay nos informa, um dos métodos usados pelos exorcistas era conhecer o nome de um espírito mais poderoso do que aquele que estava no doente, e invocá-lo contra esse espírito de doença. Cf. William Barclay, “Hechos de los Apostoles”, em El Nuevo Testamento Comentado por William Barclay, vol. 7 (Argentina: La Aurora, 1974) 154-55.

22 I. Howard Marshall, Atos: Introdução e Comentário, em Série Cultura Bíblica (São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1982) 294.

23 Ver a descrição detalhada (inclusive com fotos) em Macedo, Orixás, Caboclos & Guias, 106-8.

24 Aparentemente, a comunidade havia preparado algumas perguntas para Paulo sobre questões práticas Esta carta havia sido possivelmente trazida por uma delegação (1 Co 16.17). Em 1 Coríntios Paulo responde algumas dessas perguntas. Podemos detectá-las nas partes da carta que Paulo começa com a expressão “com relação à….”, ver 7:1, 25, 8:1, 12:1, 16:1, 16:12.

25 Barclay, I & II Corintios, 83-84.

26 Ibid., 84. Serápis era uma divindade do Egito, importada da Grécia. Era o deus dos mortos e da cura. Um dos seus adoradores mais famosos foi o rei Ptolomeu I, considerado também o iniciador do culto a esse deus.

27 Ibid.

28 Cf. Fraser, The Golden Bough, onde ele discute esse assunto em relação ao culto de Diana.

29 Os que estão familiarizados com os comentários de Barclay percebem como freqüentemente ele apela para a antiga crença pagã em um mundo povoado de demônios para explicar passagens bíblicas onde demônios são mencionados, sugerindo que os cristãos primitivos, bem como os autores bíblicos, partilhavam das superstições pagãs quanto aos demônios, as quais seriam, diz Barclay, incompatíveis com os conceitos modernos de psicologia e da ciência. Infelizmente, ao fim de sua carreira, Barclay abandonou as principais doutrinas do cristianismo histórico, revelando que esse tipo de tendência tinha raiz mais profunda. No seu livro, A Spiritual Autobiography (Grand Rapids: Eerdmans, 1975) onde ele narra sua vida e ministério, os evangélicos ficarão desapontados ao ver o quanto ele se distancia do Cristianismo ortodoxo. Ele se declara universalista (p. 58); declara que o Novo Testamento nunca identifica Jesus como Deus (p. 50); nega a ressurreição literal e física de Jesus (p. 108); identifica o Espírito Santo com o Cristo ressurrecto (p. 109); e declara que “os milagres geralmente não foram histórias do que Jesus fez, mas símbolos do que ele ainda pode fazer” (p. 45). Evidentemente podemos aprender muitas coisas de suas obras, mas o leitor deverá lê-las com discrição e discernimento.

30 C. Peter Wagner, Se Não Tiver Amor (Curitiba: Luz e Vida, 1982) 67-68.

31 Note que Paulo não teve qualquer problema em anunciar o decreto em Antioquia, o que produziu muito conforto entre os irmãos (At 15.30-31).

32 Não somente Paulo, mas os cristãos em geral tinham esse conceito. João escreveu: “Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar” (Ap 9.20).

33 Cf. Charles Hodge, A Commentary on 1 & 2 Corinthians (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1857; reimpressão 1978) 193.

34 Hodge (1 & 2 Corinthians, 194) chama a nossa atenção para o fato de que o mesmo princípio se aplica hoje aos missionários que, por força da “contextualização”, acabam por participar nos festivais pagãos dos povos. Semelhantemente, os protestantes que participam da Missa católica, mesmo não tendo intenção de adorar a hóstia, acabam cometendo esse pecado, ao se curvar diante dela.

35 João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, em Comentário à Sagrada Escritura, trad. Valter G. Martins (São Paulo: Paracletos, 1996) 320.

36 Essa diferença fundamental não foi notada por Kurt Koch em seu livro sobre magia e ocultismo. Ele diz que “O uso de fetiches, isto é, objetos carregados de magia, corresponde talvez ao uso da água no batismo ou do pão e vinho na Ceia do Senhor” (Between Christ and Satan, 85).

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Objetos que Trazem Bênção e Maldição
Rev. Augustus Nicodemus Lopes
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