“Venha participar da campanha da vitória e receba uma nova unção de vitória. Participe desta unção de Deus em sua vida”.
“Neste domingo iniciará a campanha da nova unção de prosperidade. Venha participar você e sua família e não fique de fora desta nova unção que Deus está derramando”.
“Terça-feira venha participar do culto da virada onde estaremos profetizando um ano de 2008 como o ano da nova unção de excelência. Deus tem uma nova unção para te dar.”
Estamos no final do ano de 2007. Foi um ano de muita luta, mudanças, vitórias, derrotas, aprendizado e muita perseverança. E como infelizmente já é de costume nesta época, muitas “denominações eclesiásticas” lançam suas famosas e festivas campanhas de final de ano, prioritariamente para arrecadar fundos para pagamentos de 13º e cobertura financeira de Janeiro, mês este relativamente “fraco” em termos de entradas nas igrejas. A verdade é esta, a ênfase em ofertas e desafios financeiros são constantes nestas campanhas. São verdadeiras super produções, com direito a artistas gospel famosos, cartazes, anúncios e tudo mais, sem falar nas promessas de "novas unções" e profetadas para o ano seguinte.
Estas frases acima são alguns anúncios de campanhas de igrejas para o final do ano que pude visualizar aqui em minha cidade (Goiânia).
Mas, o que é intrigante é a tal da “nova unção” que é derramada por aí nestas igrejas. Unção da prosperidade, unção do riso, unção de plenitude, unção de trabalho, unção do leão, unção de novidade de vida, unção de fulano de tal, unção disso, unção daquilo... enfim, é tanta unção nova que fico até tonto em citar as mesmas. É um tal de “profetiza pelo seu irmão que ano que vem ele será próspero financeiramente” e várias outras “profetadas de novas unções” que fico pensando; se a pessoa que ouviu esta “profetada” e não se cumprir o que foi profetizado na sua vida, o que ocorreu? A pessoa que profetizou é um “falso profeta” ou a pessoa que recebeu a profetada “não teve fé suficiente” para fazer acontecer? Ou será que a pessoa não "lançou sua semente" em forma de oferta financeira para receber a barganha da unção nova?
O pior é que através desta diferenciação toda de unção existe uma verdadeira “hierarquia de níveis de unção” nas igrejas. Quantas vezes já não ouvimos o famoso chavão “não toqueis nos meus ungidos”? Ou então “o pastor tal está em um nível de unção sobrenatural”.
É exatamente que esta onda de “novas unções” vem trazendo para a igreja, uma verdadeira “separação” entre pessoas que recebem estas “novas unções” das demais que não participam das campanhas e que “não estão na visão” da igreja, ou no “mover da igreja”. São níveis de unções que devem ser alcançadas pelo crente “degrau por degrau”. Enfim, é triste acompanhar muitos irmãos que estão se envolvendo e se entregando a este tipo de engano.
Mas será que as pessoas que participam destas campanhas e desses “moveres de unções novas” sabem o que significa a palavra “unção” Biblicamente falando?
Vamos descobrir:
A palavra unção é descrita inúmeras vezes no AT para simbolizar "recebimento de uma autoridade especial para...". Geralmente era com óleo ou azeite e tinha um escopo simbólico, isto é, como na Ceia e no Batismo, era apenas um sinal de que algo material, azeite ou óleo, demonstrava a autoridade de Deus sobre o ungido (vide a história de Davi).
No NT, lemos que Jesus foi ungido pelo Espírito. A interpretação é simples: Ele foi capacitado para fazer sua obra especial e sobrenatural.
O apóstolo João encerra o assunto dando-nos uma visão interessante sobre a questão:
"E vós possuís unção que vem do Santo e todos tem conhecimento." I João 2:20
Atenção ao verbo: possuís (presente), isto é, demonstra que é algo que já fora dado à igreja.
No grego a palavra para unção é "chrima" = iniciação. Refere-se não ao ato do batismo mas ao Espírito que vem do Santo. Ou seja, é a unção do Espírito Santo em um Crente que recebe o mesmo após a conversão.
"E vós tendes a unção do Santo" 1 Jo 2:20
A unção é o próprio Espírito Santo que habita no regenerado. Dessa forma, todo verdadeiro cristão é ungido por Cristo, com o Espírito de Deus.
Há uma tendência de dividir a Igreja entre grupos especiais conforme citado acima. É comum separar os espirituais dos não-espirituais, os santos dos não-santos e os ungidos dos não-ungidos. Essas linhas divisórias são, na maioria das vezes, frutos de idéias humanas sem nexo com a Bíblia.
O corpo de Cristo difere do modus vivendi que reina na sociedade, a Igreja é santa. Mas o “viver em santidade” não pode levar o cristão a se auto-classificar com "um ser especial diferenciado", pois todos aqueles que experimentaram o novo nascimento, são santificados em Cristo (1Co 6.11) e o Espírito Santo passa a habitar nessa nova criatura (Rm 8.1 e 1Co 6.15-20). Sendo assim todo cristão nascido "da água e do Espírito" é um ungido de Deus ( cf. 2Co 1.21-22).
O fato do cristão ser ungido por Cristo com o Espírito Santo, denota uma separação para o serviço divino, assim como os objetos no Antigo Testamento eram separados na utilização litúrgica no templo. A unção está totalmente ligada ao processo de santificação e serviço.
Como John L. Mackenzie escreveu: " É evidente que uma pessoa ou coisa era ungida com a intenção de torná-la sagrada."(1)
A principal obra do Espírito Santo no crente é a santificação, e santidade está totalmente ligada ao serviço cristão; Jesus foi ungido par servir em seu ministério terreno( At 10.38).
A rotulação de "ungido" em pessoas específicas dentro da igreja é biblicamente errado, pois a unção, como lembra o pastor Paulo Romero: "não é previlégio de um grupo"(2).
Alguns pastores adeptos da confissão positiva e outras distorções doutrinárias, costumam apelar para o Salmo 105.15, todas as vezes que são questionados. Sempre dizem: "não toqueis nos ungidos de Deus" e ainda contam testemunhos de pessoas que desafiaram a autoridade de "mestres da fé" e morreram. Tudo isso não passa de pressão psicológica. Esses tele-profetas confundem o conceito de unção do Novo Testamento com do Antigo Testamento, pois na Velha Aliança, somente reis e sacerdotes eram ungidos, mas hoje, todo salvo é um sacerdote real, uma habitação da Trindade (1Pe 2.9 e Ap 1.6). Para mais detalhes, veja o artigo "Cuidado com os pastores dominadores!"
Portanto, não há categorias de crentes de primeira classe. Se você está no meio deste engano, saia enquanto é tempo. Esses que se auto proclamam de "ungidos", normalmente se comportam como infalíveis e até divinos, porém não passa de pessoas dotadas com a mais alta “soberba maligna”! A maioria das seitas possuem líderes com estas características.
O apóstolo João, alertou sobre os perigos dos ensinos heréticos pelos "anticristos" que estão enganando nessa última hora. Cada crente necessita de discernimento para distinguir entre o falso e o verdadeiro. O Espírito Santo, é aquele que guia o crente "em toda a verdade"(Jo 16.13) e o ungido, por ser habitado pelo Espírito da verdade, tem capacidade de discernimento.
O crente, cheio do Espírito, tem fome pela Palavra de Deus, que o instrui em toda a verdade, assim o Espírito Santo fará lembrar aquilo que o crente já aprendeu na leitura das escrituras. A unção proporciona sabedoria, que é produzida e alimentada pela meditação nas Sagradas Escrituras.
Para que o cristão esteja salvo dos erros doutrinários, ele precisa da Revelação Bíblica e da capacitação do Espírito Santo, é a união entre a ortodoxia e a verdadeira espiritualidade. Essa necessidade é permanente, pois os falsos profetas estão cada vez mais sutis e numerosos.
"Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós..." (1Jo 2.27)
A unção é permanente. Essa verdade contradiz com o conceito de "nova unção" . O Espírito Santo está habitando no crente e mediante isso, o filho de Deus, não necessita de uma "nova unção".
É necessário muito cuidado com esse clichês gospel, tais como "unção da cosquista", "unção de ousadia", "unção do profeta Elias", "unção dos quatro seres" etc. Por traz dessas expressões estão um falso conceito de unção, além da distorções doutrinárias. Unção, para muitos, é um poder mágico que capacita a pessoa a ser um mini-deus, é uma sede por espiritualidade desassociada de Deus.
"A unção vos ensina todas as coisas"
Por meio da Palavra, o Espírito Santo ensina as verdades de Deus. João alerta que os cristãos precisam tomar cuidado com os falsos ensinos, e devem rejeitar lições que provem de uma fonte diferente da que é dada pelo Espírito Santo, isto é, a Santa Palavra. Esse texto ensina que as verdades divinas são absolutas e infalíveis, ou seja, não é preciso ir além da revelação escrita na Bíblia.
Esse texto não está ensinando que é proibido uma pessoa estudar e examinar a Palavra, pois o Espírito Santo ensina tudo. O que este texto passa é uma advertência contra os ensinamentos extra-bíblicos dos falsos profetas. Meditar na Palavra e examiná-la com humildade é o meio do Espírito Santo guiar o crente em toda a verdade.
Conclusão
A unção é "verdade e não mentira", portanto o Espírito de Deus está preocupado com a verdade e guia o seu povo para ela. A unção está ligada a ortodoxia doutrinária e não aos vários modismos pós-modernos, que invadem as igrejas nesses últimos dias.
Por esta razão que eu afirmo seguramente e muitos também, que não há unção de conquista, de riso, de suor, de... Unção é uma só e recebida no ato do batismo com o Espírito Santo. É capacitação.
Notas:
1) Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico, Paulus, SP, 1983.
2) Romeiro, Paulo. in Resposta Fiel(entrevista), CPAD, ano 5, n° 17, p 11.
3) Gilberto, Antonio. in Ensinador Cristão, CPAD, ano 8, n° 29, pg 20.
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